No dia em que Portugal chegou pela primeira vez à final dos 4x400m num Campeonato do Mundo de atletismo, o Botsuana assumiu-se como a grande sensação da prova, batendo os EUA nos últimos metros para arrebatar a medalha de ouro, em Tóquio, e tornar-se na primeira selecção africana a conquistar o evento.
Sob uma chuva impiedosa e com a pista extremamente molhada, inclusive com zonas de acumulação que sugeriam prudência aos atletas, tudo corria com relativa normalidade até à última das quatro voltas. Nessa altura, os EUA lideravam – com uma margem curta, é certo -, ladeados pela África do Sul e pelo Botsuana.
No momento da transmissão do último testemunho, Portugal – que se preparava para partir para os derradeiros 400 metros na antepenúltima posição. um resultado bastante encorajador – cometeu um erro crasso e deixou fugir a hipótese de brilhar um pouco na corrida das medalhas. No momento da troca, o testemunho caiu e Ricardo dos Santos correu o último segmento já sem aspirações, afundado na última posição.
Depois do recorde nacional da distância (2m59,70s) e do incrível acesso à final, a selecção portuguesa (com Pedro Afonso, Omar Elkhatib, João Afonso e Ricardo dos Santos) deixou, assim, cair uma oportunidade de ouro de brilhar um pouco numa disciplina em que o país não tem credenciais.
“Só acontece a quem cá está e não podemos esquecer o percurso até à final. Não duvido que seria uma marca igual ou melhor à semi-final. Aconteceu-nos este acidente. É trabalhar, esta equipa tem ainda muito para dar e é muito jovem”, afirmou João Coelho, envolvido na derradeira transmissão com Ricardo dos Santos.
Lá na frente da corrida, os últimos 100 metros foram entusiasmantes. Vindo de trás, Collen Kebinatshipi, de 21 anos, fez 57,76s no último segmento e ultrapassou o sul-africano e o norte-americano, o que significa que os EUA falharam o título apenas pela segunda vez nas últimas 11 edições.
De resto, os norte-americanos deram-se ao luxo de trocar todos os quatro atletas que tinham corrida a meia-final, de manhã, ficando remetidos à medalha de prata, com o mesmo tempo do vencedor (2m57,83) e menos dois centésimos do que a África do Sul.