Com leitão ou não, o negócio familiar vai sempre andando. O ritmo com que este homem das bifanitas se movimenta atrás do balcão não é fácil de acompanhar, assim como as pessoas que vão entrando pela porta, muitas delas conhecidas do proprietário. “Eu sou multicultural. Na altura do verão são mais os turistas mas tenho muitos habituais”, afirma, acrescentando: “Tenho cá clientes desde o primeiro dia”, garante, dando como exemplo a Marinha, na rua do Arsenal, que por lá passa todas as quartas e sextas-feiras, deixando previamente um papel com o pedido, para ir sendo despachado, e trabalhadores da construção civil — “se andam aqui perto” juntam-se todos no Triângulo. A fidelidade dos clientes deve-se, acredita, ao segredo do negócio: “É manter a qualidade”. Esta é garantida graças às poucas e discretas mudanças que foram fazendo ao longo dos 41 anos. A receita é a mesma desde sempre — é secreta — assim como o pão que recebe as bifanas. Apenas no menu vão fazendo alguns acrescentos, como o Queijo da Serra, que “tem meia dúzia de anos”. Aquela lista conta ainda com sugestões como prego no pão (2,50 euros), entremeada com ovo e queijo (3,50 euros) — “Para mim é o melhor, até que a bifana”, comenta um cliente —, sandes de ovo (1,70 euros), mista de presunto e queijo (3,20 euros) ou sandes de paio com ovo (3,30 euros). Já os preços, também se vão mantendo, atualizados de dois em dois ou de três em três anos.
Já o café, vende a 70 cêntimos. “Só para enervar os meus vizinhos. Vêm cá chatear a perguntar porque é que eu não aumento o café e depois eu não aumento mesmo”, garante. Os vizinhos de que fala são tanto os negócios da zona como o Time Out Market Lisboa. Com as traseiras de frente para o Triângulo, o Mercado da Ribeira recebe desde 2014 a Time Out Portugal e, enquanto ponto turístico na cidade, traz também milhares de clientes a esta tasca. “E não é centenas, é milhares de pessoas”, esclarece. “A melhor coisa que me aconteceu foi a concorrência. Porque sou um bocado diferente daquilo que a gente tem aqui à volta, não é?”, afirma. De passagem pela rua Ribeira Nova são assim vários os turistas que, ao notarem que há uma fila à porta daquele Triângulo, juntam-se à espera enquanto treinam num mau português como dizer “era uma bifana com queijo, por favor”. Vítor rapidamente lhes responde na língua materna: inglês ou francês, comunica com facilidade, assentindo como sempre aos pedidos. Há turistas que ficam a comer uma bifaninha ao balcão? “Tenho. É porque eu falo e as pessoas ficam”, responde. Para evitar a concorrida fila ou se tem fome para a bifana já depois da hora de almoço ou então “é esperar, é um de cada vez”. O proprietário garante, no entanto, que a espera não é longa: no “pega e leva” é rápido mas, se o cliente “fixar aqui um bocado mais”, já chega aos 10 a 15 minutos. “Consigo dar vazão a isto rápido senão estávamos tramados”, afirma.