É “uma das maiores descobertas médicas da história do país”, garantiu Donald Trump no domingo, prometendo para esta segunda-feira um anúncio relacionado com o autismo que deverá ser duplo. O primeiro anúncio estará relacionado com uma possível associação do paracetamol (na gravidez) ao risco de autismo e, por outro lado, poderá ser anunciada uma terapia experimental que pode ajudar as crianças autistas.
No funeral de Charlie Kirk, Donald Trump foi enigmático quando anunciou uma “descoberta fenomenal”: “Talvez tenhamos conseguido uma resposta para o autismo”, asseverou. O que está em causa, concretamente? Fontes oficiais citadas pelo The Washington Post antecipam que as autoridades de saúde norte-americanas vão recomendar cautela no uso de acetaminofeno (paracetamol) durante a gravidez, sobretudo nos primeiros meses.
O fármaco, que é muito usado a nível mundial sob várias marcas, incluindo genéricas, é considerado seguro pelas sociedades médicas, mas estudos recentes de Harvard e Mount Sinai apontam uma possível ligação entre a sua utilização por grávidas no início da gestação e um maior risco de autismo nas crianças. As autoridades norte-americanas devem, por isso, aconselhar grávidas a evitarem o medicamento, exceto em situações de febre.
Por outro lado, a Casa Branca deverá, também, referir-se ao uso de leucovorina como possível terapêutico usado em crianças autistas (o The Washington Post não se refere à possibilidade de ser usado por adultos). Este é fármaco sobretudo usado, até agora, para tratar défice de vitamina B9 ou reduzir efeitos secundários de certos medicamentos. Mas ensaios clínicos controlados demonstraram progressos notáveis em crianças com autismo, sobretudo na capacidade de falar e compreender.
A Food and Drug Administration (FDA) ainda está, segundo o jornal, a avaliar a forma como poderá ser apresentada esta descoberta científica na forma como o medicamento poderá passar a ser comercializado.
Desde o início do mandato, Trump encarou o aumento das taxas de diagnóstico de autismo — hoje uma em cada 31 crianças de oito anos, contra uma em 150 no ano 2000 — como uma prioridade política. O autismo é uma condição médica que alguns especialistas consideram predominantemente de origem genética e, por isso, basicamente incurável.
O secretário da Saúde, Robert F. Kennedy Jr., e outros altos responsáveis têm pressionado para respostas rápidas, mas cientistas alertam que o processo exige tempo e rigor. O envolvimento de figuras polémicas, como David Geier, que defende ligações entre vacinas e autismo apesar de décadas de estudos a refutarem essa hipótese, está a gerar inquietação na comunidade médica. E empresas farmacêuticas, incluindo a produtora do Tylenol (marca mais usada nos EUA de paracetamol), também já manifestaram reservas sobre o rumo das investigações.
A apresentação por parte da Casa Branca coincide com o lançamento de um programa de investigação do National Institutes of Health (NIH), que irá financiar 13 equipas dedicadas a causas e terapias para o autismo. Embora este esforço seja autónomo, destina-se também a confirmar resultados prévios e reforçar a base científica da discussão.