O poeta Nicolas Behr lança neste sábado (20/9) o livro “EnCerrado” (Impressões de Minas), no Espaço Impressões, em BH, das 16h às 21h. O evento inclui bate-papo com Behr e Rogério Tavares, além de leitura de poemas do livro com o projeto Manuscrito. A obra surge como uma crítica ao desrespeito à natureza e se posiciona principalmente contra o desmatamento, celebrando a grandiosidade do cerrado.
Os poemas vêm da longa convivência do autor com o cerrado. Bioma que, segundo ele, levou 70 milhões de anos para se formar e, em apenas 40 anos, já perdeu metade de sua área original. “Basicamente, é a transformação do meu conhecimento sobre o cerrado em poesia via linguagem. Modéstia incluída, eu sei muito sobre o cerrado, eu estudo o cerrado, conheço o cerrado e transformei esse conhecimento científico, técnico, em poesia”, explica Behr.
Nicolas Behr nasceu em Cuiabá, em 1958. Até os 10 anos de idade, morou em uma fazenda no Norte do Mato Grosso, em Diamantino. O poeta sempre viveu em contato com a natureza e com os animais e, desde a juventude, é engajado em causas ambientais, políticas e estudantis, o que sempre motivou o tom e conteúdo de sua escrita.
“Era adolescente quando comecei a escrever, fazia parte de um grupo de Brasília de muita participação política. Comecei a publicar meus livros mimeografados e os vendia na rua. Em 1980, eu virei publicitário, fui redator. Fiquei um tempo sem escrever, sem publicar”, conta ele.
Após deixar a publicidade, Behr se engajou no movimento ecológico. “Fui para ecologia e voltei a escrever meus livros. Esse hobby, que era produção de mudas, de plantas, virou negócio. Até hoje tenho um viveiro de plantas, o Pau Brasília.”
Limites
Em “EnCerrado”, poemas evidenciam o posicionamento do autor com as causas ambientais. Para ele, o homem atua de maneira hostil à natureza, a vê como inimiga e como um produto para ser usado e comercializado. “Se o homem não se dá limite, a natureza vai dar. Ela já está dando sinais, porque o planeta não aguenta”, diz Behr.
O poeta de 67 anos conta que o livro amadureceu ao longo de sua vida, mas levou cerca de um ano para ser escrito. “Fui lendo sobre o cerrado, relendo, olhando os livros, e fui vendo que ali tinha alguns núcleos poéticos, algumas coisas que podiam virar tema: queimada, desmatamento, vereda, mudança climática”, afirma.
“’As árvores são um poema que a terra escreveu para o céu’. Quem disse isso foi Khalil Gibran, mas o poema não é dele, é de quem precisa”, reflete Behr.
Ditadura
Nicolas Behr integrava movimentos estudantis nos anos 1970. Em 1978, com 20 anos e 10 dias, foi preso pelo DOPS. Os militares justificaram a prisão por “porte de material pornográfico”, mas, na verdade, deduziram que o poeta tinha um mimeógrafo em casa e buscavam apreendê-lo. “Não acharam mimeógrafos. Fui a julgamento e fui absolvido”, relembra.
Segundo Behr, a prisão não o intimidou. “Continuo escrevendo do mesmo jeito. As ditaduras têm medo da poesia. Então, fiquei pensando: ‘Será que é comigo? Eu ameaço o Estado brasileiro?’ Porque era um garoto, um menino.”
Para o poeta, os anos de chumbo evidenciaram a arte e a poesia como forma de testemunho e resistência. “Esse livro é um testemunho da destruição do cerrado, que está desaparecendo na nossa cara. Hoje tem gente queimando, desmatando, e o cerrado está indo”, conclui Behr.
“Lamento estragar a festa dos teus rodeios de grandes números, mas a natureza apresenta a conta, faz de conta que não é com você”
Poema “Lamento estragar a festa”, Nicolas Behr
“ENCERRADO”
• De Nicolas Behr
• 99 páginas
• Impressões de Minas
• Preço: R$ 60
• Lançamento neste sábado (20/9), no Espaço Impressões (Rua Bueno Brandão, 80 – Floresta), das 16h às 21h. Bate-papo com Nicolas Behr e Rogério Tavares, e leitura de poemas do livro com o projeto Manuscrito. Entrada gratuita.
* Estagiária sob supervisão da subeditora Tetê Monteiro