✔️“Estamos a falar de um valor médio de três mil euros por metro quadrado [no Porto]” — Diana Ferreira (CDU)
A habitação foi o tema que abriu o debate entre os cinco candidatos à presidência da Câmara do Porto. Diana Ferreira afirmou que este é um “problema profundo”, com uma “dimensão dramática” na cidade. E quantificou-o, lembrando que o preço por metro quadrado da habitação ronda os três mil euros. Foi um valor mais tarde repetido por outros candidatos, inclusive Sérgio Aires, do Bloco de Esquerda (BE), e confirma-se.
Os números mais recentes referem-se ao primeiro trimestre de 2025 e colocam o valor de venda de casa no Porto nos 3066 euros por metro quadrado, sendo um dos municípios que “apresentaram os preços da habitação mais elevados” depois de Lisboa (4492 €/m2), Cascais (4477 €/m2) e Oeiras (3983 €/m2), lê-se no último relatório do Instituto Nacional de Estatística (INE).
✔️“Este é um número impressionante. Temos no Porto mais de 20 mil casas que estão desabitadas, vazias” — Pedro Duarte (PSD)
Ainda no tema da habitação, que dominou grande parte do debate, o candidato pela coligação PSD/IL/CDS, Pedro Duarte, defendeu que não é preciso construir mais casas, mas sim aproveitar as que já existem, lembrando que há “mais de 20 mil” vazias.
Tem razão. São, em concreto, 20.270 e surgem referenciadas na Carta Municipal de Habitação, divulgada em Fevereiro, quando o município declarou situação de carência habitacional. A nova carta municipal, de Julho de 2025, mantém o mesmo valor de casas devolutas. Estas casas vazias correspondem a 15,2% do edificado e estão concentradas, sobretudo, no centro histórico e centro alargado.
✔️ “O Porto não tem gente a mais. Na década de 80, o Porto tinha 330 mil habitantes. Hoje, segundo os Censos de 2021, teremos 230 e tal mil. O INE diz 250 mil” — Manuel Pizarro (PS)
Na discussão sobre a falta de habitação e a gentrificação da cidade, o candidato pelo PS, Manuel Pizarro, vincou as diferenças face a Pedro Duarte, que tem defendido que o Porto não precisa de mais habitantes. Pizarro afirmou que “o Porto não tem gente a mais”, e recorreu a números para comprovar a evolução populacional, que tem registado um sentido descendente.
De acordo com os Censos de 1981, o concelho do Porto tinha, à data, um total de 327.368 residentes. Nos Censos de 2021, também referidos por Pizarro, a população do concelho portuense fixou-se nos 231.962 residentes. Pizarro refere ainda o portal de estatística nacional, que em 2023 registava 248.769 pessoas a viver no Porto, próximo dos 250 mil referidos no debate. Este número também foi indicado, em 2024, pelo Conselho Municipal de Economia. Em suma, o Porto perdeu pelo menos 77 mil habitantes nos últimos 40 anos.
⚫ “A VCI é outra coisa. Estão aqui PSD e PS a discutir este assunto. A verdade é que nunca quiseram desportajar a A41. É uma solução, mas não é a única’’ — Sérgio Aires (BE)
A mobilidade foi outro dos temas deste debate, com o foco no trânsito da Via de Cintura Interna (VCI). O candidato pelo Bloco de Esquerda, Sérgio Aires, apontou o fim das portagens na A41 como uma das hipóteses para aliviar o fluxo automóvel na VCI e acusou o PS e o PSD de nunca terem tido a intenção de avançar com essa medida.
Em relação à posição dos social-democratas sobre esta matéria, o PSD do Porto fez um comunicado, em Maio de 2024, onde repudiava a proposta do PS, aprovada com os votos do Chega, que pôs fim às portagens nas ex-SCUT (A4 – Transmontana e Túnel do Marão, A13 e A13-1 – Pinhal Interior, A22 – Algarve, A23 – Beira Interior, A24 – Interior Norte, A25 – Beiras Litoral e Alta e A28 – Minho nos troços entre Esposende e Antas e entre Neiva e Darque), lamentando o silêncio “cúmplice” dos autarcas socialistas perante uma proposta “que vira costas” ao Porto.
O facto de o distrito do Porto ter ficado de fora das portagens abolidas pelo PS e Chega motivou inclusive o Manifesto Porto Sem Portagens, em Julho de 2024, que juntou autarcas de diferentes cores políticas, sindicatos, empresários e associações da região. A iniciativa de Jorge Machado, advogado e ex-deputado do Partido Comunista Português (PCP), foi assinada pelos presidentes Rui Moreira (independente) da Câmara do Porto, Eduardo Vítor Rodrigues (PS) de Vila Nova de Gaia, Marco Martins (PS) de Gondomar, José Manuel Ribeiro (PS) de Valongo e António Silva Tiago (PSD) da Maia.
Já em Janeiro de 2025, o PCP entregou no Parlamento um projecto-lei para dar continuidade à eliminação das portagens iniciada pelo PS, argumentando que esse processo ficou incompleto “porque vários troços das SCUT continuaram a ter custos para o utilizador”, afirmava António Filipe, do PCP, citado pela SIC Notícias. Mas o documento não chegou a ser votado.
Assim, não é inteiramente verdade que PS e PSD não queiram eliminar as portagens na A41, havendo vários autarcas dos dois partidos a exigir o fim dos pórticos da A4 em Matosinhos, Maia e Valongo, da A28 em Vila do Conde e Póvoa de Varzim, da A29, da A41 e da A42.
⚫“Na freguesia de Ramalde, havia quatro esquadras [da polícia] e agora há uma” — Miguel Corte-Real (Chega)
A segurança foi outro dos temas-chave do debate, com os candidatos pela coligação PSD/CDS/IL e pelo Chega a recusarem as estatísticas oficiais, optando pelas percepções. Miguel Corte-Real vincou a necessidade de haver mais polícias na cidade, de substituir os profissionais alocados aos serviços administrativos, libertando assim mais polícias para funções operacionais, e também deu o exemplo da freguesia de Ramalde, onde alega que há agora apenas uma esquadra quando antes existiam quatro.
Ramalde é, segundo os Censos de 2021, a segunda freguesia com mais população do concelho do Porto e, de facto, agora tem apenas uma esquadra, localizada no Viso.
O candidato pelo Chega tem razão quando diz que já houve mais do que uma esquadra. Chegaram a existir três esquadras da Polícia de Segurança Pública nesta freguesia, uma no Pinheiro Manso, outra em João de Deus e ainda em Francos, que entretanto fecharam, como se pode comprovar na lista de esquadras do distrito.