Mariana Mortágua vai pedir para ser substituída temporariamente na Assembleia da República, enquanto continua a participar na missão humanitária que tem como objetivo entregar ajuda humanitária a Gaza, apurou o Observador junto de fonte do partido. O lugar de deputada única do Bloco de Esquerda vai ser ocupado por Andreia Galvão, que é subscritora de textos críticos da atual direção do partido e era a número três às legislativas em Lisboa. Mortágua justifica-se: “O meu papel político neste momento é estar nesta missão e sei que represento muitos portugueses”.

O BE tem dito aos militantes de base que Mortágua deverá regressar a Portugal a tempo das eleições autárquicas, no dia 12 de outubro, ao que sabe o Observador. A não presença da Coordenadora Nacional poderá dar mais um argumento à oposição interna do partido — depois dos maus resultados nas últimas eleições — que terá oportunidade de lhes dar voz na Convenção Nacional, marcada para os dias 29 e 30 de novembro.

Ainda que faça parte da direção do BE, Andreia Galvão é uma das subscritoras de um texto crítico da liderança bloquista dos últimos anos, que será apresentada nessa convenção. A terceira candidata a Lisboa nas últimas legislativas subscreve a Moção A, às próximas eleições internas, que é liderada por Mariana Mortágua.

Contudo, também subscreve um texto de contributo que pede para se “renovar a direção”, “renovação da orientação estratégica”, “democracia interna efetiva” e para se “pôr fim ao centralismo excessivo” do Bloco. “O momento é de crise: sem mudanças profundas, os riscos para o Bloco são existenciais”, lê-se no texto apelidado “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer“.

Com Fabian Figueiredo (número dois em Lisboa) a abdicar de ocupar o lugar de Mortágua, Andreia Galvão deverá estrear-se como deputada no debate quinzenal com Luís Montenegro marcado para esta quarta-feira. Mariana Mortágua, ao contrário dos dois outros portugueses na missão, tem sido contactada diariamente pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros, desde que partiu de Barcelona, no final de agosto.

Depois da publicação desta notícia, a líder do Bloco confirmou nas redes sociais que pediu a suspensão temporária do seu mandato. “Não sabendo exatamente quantos dias vamos demorar até chegar a Gaza, não sabendo exatamente o que é que vai acontecer no momento em que chegamos até Gaza, tomei a decisão de requerer a minha substituição na Assembleia da República”, diz.

Num vídeo filmado a partir de um barco, Mortágua diz que sabia que havia “riscos de derrapagem” no dia de regresso a Portugal, mas lembra que quando aceitou participar na missão a data prevista “coincidia mais dia, menos dia, com o início dos plenários na Assembleia da República”. A deputa diz que o atraso tem sido “causado razões logísticas, meteorológicas, organizativas” e porque se trata da “maior flotilha alguma vez tentada com dezenas de barcos e centenas de participantes”.

Mortágua confessa que pedir a substituição no Parlamento não foi uma “decisão fácil”, mas diz que quer “garantir que o Bloco de Esquerda tem uma voz em todas as instâncias onde tem a sua presença política”. “Eu entendo que o meu papel político neste momento é estar nesta missão e sei que represento muitos portugueses“, justifica. A flotilha para Gaza “será tão melhor sucedida quanto mais figuras públicas e políticas ela puder trazer com ela”, defende Mortágua. Por fim, a líder do BE diz que o partido “estará muito bem representado pela Andreia Galvão”.

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