Há autarquias onde o resultado de 12 de outubro terá peso nacional: são populosos, têm vários candidatos a presidente e há possibilidade de troca de protagonistas. Em Faro, três partidos acreditam lutar pela vitória
Faro (CNN Autárquicas 2025) – Há 16 anos – quatro mandatos consecutivos – que Faro é liderado por um presidente da Câmara do PSD. Só que Rogério Bacalhau atingiu o limite de mandatos, o que obriga a um novo protagonista no concelho. Este é a primeira alteridade no concelho. A segunda é o crescimento substancial do Chega na região, o que pode acabar por beneficiar… o PS.
A disputa em Faro – concelho com mais de 70 mil habitantes, de que se extraem 57 mil eleitores, dos quais votaram nas legislativas de maio 36 mil pessoas – promete ser até à última. Porque é certo que haverá um novo presidente. E porque os partidos favoritos jogam nomes fortes.
O PSD escolheu o deputado Cristóvão Norte, figura conhecida e experiente, que representa uma coligação com CDS-PP, Iniciativa Liberal, PAN e MPT. A candidatura recupera o histórico algarvio Macário Correia, que encabeça a lista para a Assembleia Municipal. O PS colocou em jogo António Pina, que, atingindo o limite de mandatos em Olhão, usa a reputação e a obra feita no concelho vizinho como cartão de visita. O Chega, que foi segunda força política nas últimas legislativas (e a primeira no distrito) apostou no líder parlamentar, Pedro Pinto.
Se o PSD luta pela manutenção, o PS acredita sobretudo que, ao contrário do que acontecerá noutras localidades, o crescimento do Chega aqui se fará sobretudo à custa do partido de Luís Montenegro, o que abre espaço para a vitória socialista. Uma sondagem do ICS/ISCTE de final de julho para o Expresso/SIC mostrava precisamente esse cenário. com o PS à frente, bem como uma diferença menor entre PSD e Chega.
O cenário de uma coligação à esquerda entre PS, Livre e Bloco de Esquerda ainda chegou a ser equacionado, mas não avançou. Por isso, há ainda outros cinco candidatos que é preciso ter em conta: Duarte Baltazar da CDU, Adriana Marques Silva do Livre, José Moreira do Bloco de Esquerda, José Freitas Oliveira do ADN e Pedro Oliveira do Volt.
Pedro Pinto, do Chega, pode mudar o jogo em Faro (Miguel A. Lopes/Lusa)
Arsenal de campanha
Em Faro, o turismo tanto é ganha-pão como dor de cabeça. O tema da habitação é, por isso, incontornável, perante a pressão nos preços e o crescimento do alojamento local, que retira casas do mercado de arrendamento tradicional. Os candidatos acenam com a necessidade de construir mais habitação para responder às famílias com maiores carências, mas também à classe média.
Uma das formas de contrariar a falta de mão-de-obra nos setores do alojamento e restauração tem passado pelos imigrantes. E isso cria uma nova centralidade no debate político, até por ser um tema natural no discurso do Chega. Em Faro, uma das propostas passa por negociar com o Governo uma lei que defina um número limite de pessoas por habitação, para evitar casas sobrelotadas.
A imigração é ainda associada à sensação de insegurança, que leva os partidos a prometerem reforços tanto na videovigilância como no policiamento. Para inverter esse cenário, pede-se mais iluminação pública, maior limpeza, o fim dos contentores do lixo cheios ou dos pavimentos degradados.
Em Faro, são também determinantes soluções na saúde, como o acesso a médicos de família, num concelho que aguarda pela obra do seu Hospital Central.
Por fim, um problema transversal a todo o Algarve: a seca e as dificuldades na gestão de água, que têm obrigado a medidas temporária de contenção. Nesta matéria, há alertas de que os sistemas de drenagem e escoamento precisam de ser mudados, porque não conseguirão dar resposta a chuvas rápidas e intensas – algo que o aquecimento global tem vindo a tornar mais frequente.
Faro quer soluções para lá do turismo (Getty Images)
Currículo de guerra
O passado importa na hora de medir as probabilidades que cada força política tem. Veja como evoluíram as principais forças políticas neste concelho.
Nota: nesta comparação foram apenas tidos em conta os cinco partidos com maior peso eleitoral nas últimas eleições autárquicas, de 2021. O PSD concorreu em coligação com outros partidos de direita.