A posição de força por parte da tutela, que estará a preparar uma mobilização forçada dos obstetras, pode vir a gerar resultados muito limitados. Para além dos cinco médicos com mais de 55 anos (que, para além de não serem obrigados a deslocar-se do ponto de vista legal, também não o pretendem fazer), uma outra obstetra ameaça rescindir o contrato caso a medida avance. “Uma médica [do serviço] diz que, se isto acontecer, rescinde. É quase obrigar os mais novos a saírem do SNS. Não se entende“, diz a fonte que falou com o Observador. Ou seja, o despacho que estará a ser ultimado no Ministério da Saúde poderá servir apenas para mobilizar um médico, o que acontecer, teria um impacto muito limitado na elaboração das escalas da urgência de Obstetrícia do Garcia de Orta, que continuam muito deficitárias.
“Isto é inútil, porque não há médicos para mobilizar. Os médicos já trabalham com enormes dificuldades, com equipas desfalcadas, com mais horas extra”, sublinha a presidente da FNAM, que defende que, para reforçar a resposta obstétrica na margem sul, “o que faria sentido era existir um reforço das equipas”, com a contratação de mais profissionais e a melhoria das condições de trabalho oferecidas aos médicos.
A ministra da Saúde conhece, aliás, os riscos de avançar com avançar com mobilizações forçadas de médicos para outros hospitais. No verão de 2023, quando Ana Paula Martins era presidente do Hospital de Santa Maria, os médicos obstetras daquela unidade receberam indicações para se deslocarem para o Hospital São Francisco Xavier, onde iria ficar concentrada a urgência obstétrica, devido ao fecho da maternidade do Santa Maria para obras. A mobilização gerou forte contestação interna, levou ao afastamento do então diretor de serviço, Diogo Ayres de Campos, e à saída por rescisão de contrato de oito médicos.
No último domingo, dia 21 de setembro, o Garcia de Orta — cuja urgência obstétrica deveria estar a funcionar sem limitações — viu-se obrigado a encaminhar as utentes para o hospital do Barreiro porque voltou a não conseguir médicos em número suficiente para garantir a totalidade da escala. Desta forma, entre as 8h e as 20h, a urgência esteve apenas referenciada aos casos encaminhados pelo Centro de Orientação de Doentes Urgentes do INEM, sendo que durante a maior parte do dia o Hospital do Barreiro esteve a dar resposta a toda a Península de Setúbal na área obstétrica.