Deixou de estar fisicamente, nunca deixou de estar na cabeça da equipa. Apesar da queda sofrida na sétima etapa da Volta a França com fratura de uma costela, lesão num dedo da mão e várias escoriações profundas pelo corpo sobretudo na zona das costas e pernas, que fez com que desistisse dois dias depois na ligação entre Chinon e Châteauroux, João Almeida nunca deixou de ser recordado pela UAE Team Emirates a começar pelo seu líder, Tadej Pogacar. Lamentou a saída do português logo no final da primeira volta, lamentou após os autênticos “atropelos” à concorrência nos Pirenéus, lamentou na sequência da coroação em Paris. Mais: até na mensagem do pós-festa o esloveno voltou a deixar palavras para o amigo e companheiro de equipa.

Os treinos em busca da perfeição, o trabalho de ginásio para as clássicas e o talento geracional: existe algum limite para Pogacar?

“Três semanas, um sonho. Todo o tipo de dor. Todo o tipo de alegria. É assim o Tour. Um enorme respeito pelo pelotão – aqui não há vitórias fáceis. Orgulhoso de usar a amarela novamente e ainda mais orgulhoso das pessoas que tornaram isso possível. Vocês sabem quem são. João Almeida, sentimos a tua falta em Paris, mas a Vuelta está a chamar”, escreveu o tetracampeão no Tour, acompanhando a publicação com a imagem de toda a equipa na estrada na última etapa da prova em Paris (antes de voltar a atacar a tirada).

As dúvidas começavam a estar no ar, esta terça-feira sobraram certezas. Apesar de toda a especulação sobre uma possível presença de Pogacar na Vuelta, algo que fez pela última vez em 2019 quando tinha 18 anos com um terceiro lugar atrás de Primoz Roglic e Alejandro Valverde, o esloveno foi deixando cair essa hipótese. “Tenho memórias fantásticas desde 2019 mas o meu corpo diz-me que tenho de parar. Estou ansioso por voltar ao Canadá, as corridas são complicadas mas lindas, enquadram-se no meu estilo. Vou voltar depois a correr a pensar também nos Mundiais, em especial”, assumiu o esloveno. “A ideia inicial no início da época passava por levar o Tadej à Vuelta mas a temporada foi especialmente longa para ele. Falámos sobre o que era melhor e vai descansar para depois atingir os últimos objetivos”, frisou o diretor Matxin Fernández.

Deu para tentar, não deu mesmo para conseguir: João Almeida desiste do Tour

Faltava apenas confirmar a equipa da Emirates que vai marcar presença na Volta a Espanha, que colocou uma surpresa à mistura: Juan Ayuso também vai integrar as escolhas que têm João Almeida como líder, num conjunto que terá ainda o esloveno Domen Novak, o dinamarquês Mikkel Bjerg, o australiano Jay Vine, o espanhol Marc Soler, o austríaco Felix Grossschartner e o português Ivo Oliveira, chamado para a última grande volta de três semanas do ano apesar de não ter inicialmente no calendário essa paragem. E porquê a surpresa? Porque o jovem espanhol, que desistiu no Giro a três etapas do final depois de ser picado por uma vespa quando já se tinha afundado na classificação, deixou de ter o pai como empresário e poderá estar à procura de um novo desafio na carreira apesar de ter um contrato a longo prazo com a Emirates.

“Agora só me resta recuperar. Certamente voltarei mais forte”: João Almeida confirma desistência da Vuelta após teste positivo à Covid-19

Há quem assuma João Almeida como líder da UAE Team Emirates, tendo em conta que Juan Ayuso tinha esse papel no Giro apesar dessa grande revelação que foi Isaac del Toro (que acabou na segunda posição, só atrás de Simon Yates). Há quem fale numa co-liderança, quase como se o espanhol merecesse uma segunda oportunidade para brilhar e esquecesse essa possibilidade de tentar sair da equipa. Como será? Só mesmo o arranque da prova, daqui a três semanas, poderá dizer mas o português mostra-se confiante em espantar os azares que teve na Vuelta, entre a doença (Covid-19) que o obrigou a desistir no ano passado depois de ter estado no top 3 da geral ou a nona posição em 2023, após um quarto lugar alcançado em 2022.

“É uma sensação especial começar a Vuelta como líder da equipa, especialmente com a forma que mostrei esta época. A recuperação da queda no Tour tem sido tranquila e as minhas sensações em treino têm vindo a melhorar. Espero continuar a progredir nas próximas semanas e estar perto do meu melhor nível no início da Vuelta. Temos um grupo forte à nossa volta e acredito que podemos lutar por algo grande”, comentou João Almeida. “A Vuelta é uma corrida muito especial para mim, a minha corrida em casa. Tenho estado a treinar bem, estou a sentir-me muito bem e estou focado a 100% em fazer uma boa corrida para a equipa”, disse também Juan Ayuso. Entre um e outro, o número 1 é o português. Na estrada… logo se verá.

Apesar da queda que levou à desistência do Tour quando ocupava a sétima posição, João Almeida está na sua melhor época da carreira depois dos triunfos na Volta ao País Basco, no Tour da Romândia e na Volta à Suíça, além dos segundos lugares na Volta à Comunidade Valenciana e na Volta ao Algarve e da sexta posição no Paris-Nice. Já Juan Ayuso, que já terminou a Vuelta no pódio em 2022 (fazendo quarto em 2023), ganhou o Tirreno-Adriático e acabou em segundo na Volta à Catalunha antes de desistir no Giro.

[Horas depois do crime, a polícia vai encontrar o assassino de Issam Sartawi, o dirigente palestiniano morto no átrio de um hotel de Albufeira. Mas, também vai descobrir que ele não é quem diz ser. “1983: Portugal à Queima-Roupa” é a história do ano em que dois grupos terroristas internacionais atacaram em Portugal. Um comando paramilitar tomou de assalto uma embaixada em Lisboa e esta execução sumária no Algarve abalou o Médio Oriente. É narrada pela atriz Victoria Guerra, com banda sonora original dos Linda Martini. Ouça o segundo episódio no site do Observador, na Apple Podcasts, no Spotify e no Youtube Music. E ouça o primeiro aqui]