Luís Miguel Militão, o “Monstro de Fortaleza”, diz que os seis empresários portugueses foram mortos “por medo”
Luís Miguel Militão confessou em exclusivo à TVI e à CNN Portugal que deu a ordem para matar os seis empresários portugueses em Fortaleza no dia 12 de agosto de 2001.
“Eu errei em todos os momentos, mas errei mais quando disse ’se não fizermos o que combinámos, amanhã somos todos presos’. Isso foi uma ordem. Indireta, mas foi”, assumiu o responsável pelo planeamento do crime numa entrevista exclusiva a Elian Matte, jornalista em serviço especial para a TVI/CNN Portugal. “A nossa estupidez disse-nos que se não existiam aquelas pessoas, não existia uma denúncia e, então, ninguém saberia de nada.”
Militão, que recebeu a alcunha de “Monstro de Fortaleza”, diz, porém, que não atraiu os homens para o Brasil com o intuito de os matar.
“Convidei apenas uma pessoa, de forma informal, para que pudesse vir nas férias usufruir das belezas do Nordeste brasileiro. Tinha saído há uma semana de Portugal quando um dos portugueses me ligou, ou eu liguei para ele e, numa conversa informal e tranquila, eu disse que estava com algumas raparigas aqui no Brasil e que se um dia ele quisesse vir, viesse. Não existia motivação criminosa para esse convite de uma pessoa. Eu não atraí, essa é uma das coisas usadas pela imprensa, que eu atraí esse grupo com a intenção do turismo sexual, com intenção de cometer um crime”, revelou, na primeira parte desta entrevista exclusiva à CNN Portugal.
Luís Miguel Militão era próximo de um dos portugueses, António Rodrigues, uma amizade que vinha desde os tempos conturbados em Portugal.
“Essa pessoa voltou a ligar-me dizendo que, efetivamente, viria, e traria dois amigos. Um tinha uma afinidade maior, era uma pessoa divorciada e, quando eu me divorciei em Portugal, eu fiquei desamparado, fiquei deprimido, a beber, e encontrei nessa pessoa um ombro amigo. Eu comecei a ir para as noites, para os bares de alterne portugueses, e isso trouxe-nos alguma intimidade, inclusive com a família dessa pessoa. Chegou a convidar-me para almoçar, para jantar, para morar com uma dessas pessoas.”
De três cedo passaram a seis. E é aí que surgem os cúmplices que Militão recusa nomear. “Eles também são seres humanos que se arrependeram.”
“E um deles disse-me ‘e se a gente fizesse mal a essas pessoas?’. Quando me induziram ao cometimento do crime, eu disse ‘cara, eu não tenho coragem de matar ninguém’. E eles disseram-me ‘ah, eu tenho’”.
“Todos foram sequestrados, inclusive eu, como uma forma de fazer pensar que eu não estava envolvido no crime, para que facilitasse o fornecimento das senhas de cartões de crédito. Com esse fornecimento, saí da barraca e não participei, eu não vi, eu não sei como é que foi a não ser pela imprensa (…) Fisicamente, eu não matei ninguém”, acrescentou Militão.
“Estávamos embriagados. Sem beber não teríamos essa coragem. E aí perguntaram ‘vamos fazer mesmo aquilo que estava combinado?’. O que estava combinado era a morte. Não a morte por crueldade, mas a morte por medo. As pessoas tinham medo de ser descobertas e de ser presas.”