Foi um dos momentos mais quentes do debate entre quatro dos candidatos à Câmara Municipal do Porto. A determinada altura, e à boleia da polémica em torno do Metrobus, Pedro Duarte acusou a empresa de estar ao serviço da máquina socialista e lembrou que o diretor de comunicação da Metro do Porto, Jorge Morgado, ajuda também à comunicação de Manuel Pizarro. O candidato do PS lamentou o ataque e acusou o social-democrata de não se conseguir impor ao seu antigo colega de governo, Miguel Pinto Luz, ministro das Infraestruturas e da Habitação.

Esta troca de galhardetes, que aconteceu no debate organizado pela SIC, foi apenas a face mais visível de uma guerra que se vai travando nos bastidores da cidade e que envolve diretamente Rui Moreira, Pedro Duarte, Manuel Pizarro, o Governo de Luís Montenegro e a Metro do Porto. Aliás, as acusações começaram  bem antes de se terem lançado as bases definitivas da corrida eleitoral à Câmara do Porto. Em janeiro, quando Pedro Duarte não era sequer formalmente candidato à autarquia, já os homens de Rui Moreira apontavam o dedo diretamente a Jorge Morgado e marcavam-no como adversário.

Já nessa altura, Pizarro era acusado de estar a tentar dividir a direita para reinar, rodeando-se de antigos apoiantes de Rui Moreira e escolhendo como colaboradores figuras como Jorge Morgado, especialista em comunicação e atual diretor de comunicação da Metro do Porto, empresa com quem Moreira foi travando várias batalhas públicas durante a reta final do seu mandato — o presidente da Câmara chegou mesmo a exigir ao Governo que pusesse ordem nas obras da Metro do Porto, acusando a empresa de “mentir” abertamente sobre o estado da empreitada.

Pedro Duarte alinhou-se desde cedo com Rui Moreira, tentado afirmar-se como sucessor natural do ainda presidente da Câmara do Porto, e assumiu as dores do autarca no combate às decisões da Metro do Porto — a empresa é liderada, desde 2019, por Tiago Braga, nomeado durante o governo de António Costa. Neste contexto, Jorge Morgado é tido como sendo uma extensão natural de Tiago Braga, um adversário de Moreira e um aliado ativo do PS e de Manuel Pizarro.

Acontece que o próprio Jorge Morgado já pertenceu à equipa de Moreira. Em 2013, foi o relator dos manifestos eleitorais do movimento independente de Moreira e assessor de imprensa do autarca, tendo-se afastado progressivamente. Funcionário da Metro do Porto há mais de 20 anos, é também um nome bem conhecido da área da comunicação, tendo fundado a CCCP – Companhia de Comunicação e Consultadoria do Porto, que mais tarde deu lugar à agência K, com Rui Neves Moreira, efetivamente o diretor de comunicação da campanha de Manuel Pizarro. Esta empresa foi comprada em 2024 pelo grupo de João Líbano Monteiro. Apesar de ter sido visado por Pedro Duarte, Jorge Morgado não quis comentar as declarações do candidato social-democrata.

Mas o novelo em torno da Metro do Porto ultrapassa a guerra clássica PS/PSD — o que ajuda a explicar a situação delicada em que se encontra Pedro Duarte nesta questão. É que Rui Moreira e Miguel Pinto Luz, antigo colega de Pedro Duarte e ministro com a tutela dos Transportes, também não se entendem. Em julho, e já muito agastado com os atrasos na obra, Moreira recusou assinar o memorando de entendimento entre a Metro do Porto, o Estado, o Município do Porto e a SCTC para formalizar a operação, dizendo que essa responsabilidade deveria ser assumida pelo próximo executivo autárquico.

Ora, a circulação do Metrobus está dependente deste tal memorando de entendimento quadripartido. Nessa mesma altura, já Moreira atirava diretamente a Miguel Pinto Luz. “A tutela permitiu, objetiva e tacitamente, que a Metro desinformasse a população. Como de resto tem feito em todas as suas obras. A falta de respeito para com os portuenses e o governo da cidade já não pode ser assacada exclusivamente a uma empresa que depende do Estado Central e que faz gáudio em mentir e em iludir os portuenses”, lamentava o autarca.

No arranque de setembro, em declarações aos jornalistas à margem de uma visita à Maia, Miguel Pinto Luz fez comentários que foram muito mal recebidos por Rui Moreira. Disse então o ministro que, atendendo à relação “tensa” que existia entre “a administração do Metro do Porto e o autarca do Porto”, não lhe cabia a ele, ainda para mais com “eleições à porta”, imiscuir-se na questão. “Tem de haver alguma higiene democrática. E por isso, nessa higiene democrática, eu não me vou imiscuir”, justificou-se Pinto Luz.

Na resposta, e a através de uma carta pública enviada a Pinto Luz, Moreira acusou o membro do Governo de “Portofobia“. “Não é de hoje e será assim amanhã: ao contrário das outras cidades, o poder político do Porto não se verga, não se acomoda nem obedece aos ditames do poder central“, escreveu o ainda presidente da Câmara Municipal do Porto. Desde aí, as relações entre Moreira e Miguel Pinto Luz são hoje, no mínimo, distantes.

E aqui volta a entrar Pedro Duarte. É que apesar de ter feito parte do Governo que acompanhou o projeto da Metro do Porto e de se ter sentado ao lado de Miguel Pinto Luz no Conselho de Ministros, Pedro Duarte assumiu-se desde o primeiro minuto como crítico do projeto, chegando mesmo a liderar uma petição para suspender 2.ª fase do metrobus do Porto — daí as críticas de que o social-democrata tem sido alvo, em particular por parte de Manuel Pizarro. No debate, o socialista sugeriu que Pedro Duarte não conseguia “sequer ser respeitado pelo seu antigo colega ministro das Infraestruturas”.

Ao mesmo tempo, e indiferente ao debate político e à campanha autárquica que se vai travando, Tiago Braga, de saída do conselho de administração da Metro do Porto — vai ser substituído por Emídio Gomes, esse sim escolha do atual Governo PSD/CDS —, anunciou o início da 2.ª fase do metrobus do Porto. Pedro Duarte chamou-lhe uma “provocação“, sugeriu que a decisão tinha motivações “partidárias” e prometeu parar tudo assim que vencesse as eleições.

Montenegro encontrou-se com Filipe Araújo para tentar travar candidatura independente ao Porto

Se tiver uma história que queira partilhar sobre irregularidades na sua autarquia, preencha
este formulário anónimo.