A recente imposição de uma taxa de US$ 100 mil para o visto H-1B, que é um visto para trabalhadores qualificados, adicionou um novo ingrediente ao debate sobre imigração nos Estados Unidos. Com ações inicialmente direcionadas aos trabalhadores de menor qualificação, a exemplo dos que cruzam a fronteira de forma ilegal, a nova restrição ao visto H-1B traz consequências diferentes, já que incide mais que proporcionalmente sobre a indústria de ciência e tecnologia e, consequentemente, sobre os processos de inovação.
Um quarto dos trabalhadores em ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM) —áreas que estão associadas ao processo de inovação, que desenvolvem competências voltadas para a resolução de problemas, pensamento crítico, criatividade e colaboração— nasceram fora dos Estados Unidos. Seria natural inferir que os imigrantes de alta qualificação fossem parte do processo de inovação, mas o tamanho de sua importância é surpreendente.
Entre 1990 e 2016, os imigrantes que chegaram aos EUA com 20 anos ou mais eram 11% da população, mas alcançaram 16% dos que registraram patentes, mostrando que a participação dos imigrantes na inovação é maior que sua representatividade na população. Com relação às patentes, 23% foram registradas por imigrantes, cerca de 40% a mais que as registradas por quem nasce em solo americano.
Um ambiente que estimula a inovação, como no caso dos Estados Unidos, é certamente capaz de atrair os melhores talentos do mundo para as áreas de ciência e tecnologia. Mas a forma através da qual os imigrantes contribuem para a inovação não está apenas relacionada à habilidade destas pessoas.
Há uma série de outros mecanismos que atuam em conjunto. Primeiro, imigrantes estão mais inclinados a morar em locais produtivos (hubs de inovação), tirando proveito dos ganhos de aglomeração que existem nestas regiões. Além disto, empregam ideias e tecnologias de fora nos Estados Unidos, contribuindo para a difusão do conhecimento existente. Nesta direção, também são mais propensos a colaborar mais com inovadores de outros países.
Folha Mercado
Ainda assim, não deixam de colaborar com inovadores que nasceram nos Estados Unidos, já que a colaboração entre inovadores imigrantes e americanos é maior que a colaboração que se dá apenas entre inovadores americanos. Considerando os efeitos diretos (patentes) e indiretos (transbordamentos de capital humano), cerca de 32% das inovações americanas pode ser atribuída aos imigrantes.
Do ponto de vista do emprego, entretanto, é plausível que a entrada de novos profissionais possa substituir a atuação dos demais. Apesar de este ser um possível risco, a evidência nesta direção é pouco conclusiva. Em alguns casos, observou-se que a chegada de cientistas estrangeiros manteve a produção científica estável, sugerindo uma substituição direta, como no influxo de matemáticos soviéticos após 1992.
Mas há também exemplos nos quais a imigração não apenas impulsiona a inovação, como também atrai novos talentos para um ambiente de trabalho que se torna mais dinâmico, como no caso dos cientistas judeus que foram para os Estados Unidos fugindo da Alemanha nazista.
Para o país que recebe imigrantes de alta qualificação, há efeitos substanciais sobre inovação, produtividade e crescimento, ainda que algum efeito sobre o emprego dos trabalhadores nativos possa existir, especialmente quando se considera a contribuição de um imigrante adicional a um enorme estoque já existente. Para os trabalhadores qualificados em busca de um ambiente que fomenta a criação e o empreendedorismo, a decisão de migrar pondera riscos e benefícios. Mas quando estes benefícios se tornam menores, a decisão de imigração também pode mudar.
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