Silicon Valley virou um campo de caça ao talento e essa busca das big techs está a chegar (já adivinharam) à Europa.
Fixe este número. 14,3 mil milhões de dólares. Foi o montante da transferência feita por Mark Zuckerberg para garantir o ‘passe’ de Alexandr Wang para reforçar a sua equipa de ‘superinteligência’ na Meta. Comprou 49% da Scale AI — chutando a avaliação da startup de inteligência artificial, cofundada há cinco anos por Wang, após abandonar o MIT, para os 29 mil milhões de dólares —, para fechar o contrato com o agora Chief AI Officer da dona do Facebook e do Instagram.
A compra do passe à ‘La Champions League’ é mais um passo na corrida para a obtenção de uma posição de domínio em IA a nível global. E até soa a ‘pouco’ quando olhamos para os anúncios de investimento feitos pelas big techs norte-americanas (e não só) nesta tecnologia. Só a Apple diz que, em quatro anos, vai despejar 600 mil milhões de dólares em IA nos EUA. E a própria Meta anunciou este verão um investimento de “centenas de mil milhões de dólares” para construir data centers com capacidade para responder às necessidades crescentes de computação com o galopar mundial da IA.
Silicon Valley virou um campo de caça ao talento e essa busca das big techs está a chegar (já adivinharam) à Europa. É este nível de concorrência salarial que as startups e scaleups europeias de IA terão de enfrentar para garantir que têm as pessoas certas para os seus planos de crescimento.
Como dizia a canção nos longínquos anos 80, “the heat is on” e “caught up in the action” as big tech estão “looking out for you”. No caso, procuram esse raríssimo talento IA. E para driblar a concorrência nada como entrar a pés juntos no campo alheio. E sem pagamento de cláusula de rescisão à companhia. Sam Altman, cofundador da OpenAI, no podcast “Uncapped” — apresentado pelo irmão Jack Altman — revelou que a Meta está a fazer “ofertas gigantes a muitas pessoas” da equipa da criadora do ChatGPT, algumas das quais com “bónus de 100 milhões de dólares com assinatura [do contrato] e mais do que isso em compensações anuais”. O cerco tem levado a própria OpenAI a abrir os cordões à bolsa para reter o seu talento de topo: salários anuais de 10 milhões de dólares; bónus de mais de 2 milhões ou pacotes de ações de mais de 20 milhões de dólares, noticiou a Reuters.
Europa: campo de caça de talento IA
Silicon Valley virou um campo de caça ao talento e essa busca das big techs está a chegar (já adivinharam) à Europa. A norte-americana Anthropic está a oferecer salários na ordem das 340 mil libras (mais de 390 mil euros) ao talento top IA, num momento em que a criadora do Claude estará em conversações para levantar uma ronda de 5 mil milhões de dólares [depois do fecho desta edição fechou uma ronda série F de 13 mil milhões de dólares, chutando a avaliação da empresa para os 183 mil milhões de dólares] e planeava no início deste ano contratar mais de 100 pessoas na Europa, noticiou a Sifted.
E não é a única. A OpenAI anunciou no início do ano planos para um escritório em Munique (Alemanha), o quinto na Europa desde 2023; no final do ano espera-se a abertura em Londres de um escritório com capacidade para 4.000 pessoas da Google; e a Microsoft está igualmente a planear um novo hub de IA na capital do Reino Unido. Tecnológicas que estão a colocar as suas fichas na IA e a apostar em grande. E, tudo indica, não faltarão necessidades de talento por preencher.
Se tiver dúvidas sobre se o salário que lhe está a ser oferecido está alinhado com o mercado pode sempre perguntar a um dos grandes modelos de linguagem tão em voga. Mas apenas se não for mulher. Confiar num qualquer ChatGPT pode significar para as mulheres ganhar menos 120 mil dólares por ano.
É este nível de concorrência salarial que as startups e scaleups europeias de IA terão de enfrentar para garantir que têm as pessoas certas para os seus planos de crescimento. É certo que, fruto da euforIA, as startups de inteligência artificial têm vindo a levantar capital — dados da Sifted apontam para 4,4 mil milhões de euros até ao momento, acima dos 3,9 mil milhões de euros em todo o ano passado —, mas são valores longe dos bolsos fundos das tecnológicas americanas. A ver vamos se este aquecimento salarial é suportável ou terá de ser a IA a responder às exigências de talento tech da própria IA.
Até lá, se tiver dúvidas sobre se o salário que lhe está a ser oferecido está alinhado com o mercado pode sempre perguntar a um dos grandes modelos de linguagem (LLM na sigla em inglês) tão em voga. Mas apenas se não for mulher. Confiar num qualquer ChatGPT pode significar para as mulheres ganhar menos 120 mil dólares por ano, aponta um estudo, coassinado por Ivan Yamshchikov, professor de IA e robótica e fundador da Pleias, após questionar cinco LLM sobre que faixa de remuneração recomendaria numa futura negociação salarial, mudando apenas o parâmetro de género. Pior, é que (certamente) não se trata de uma ‘alucinação’ da IA. Apenas o velhinho (e tão humano) fosso salarial de género.
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