A Administração Trump está a utilizar a sua influência para apoiar os partidos e líderes populistas de direita no continente europeu, com o fim de mudar o “centro de gravidade ideológico” da política europeia para valores conservadores, alinhados ao seu movimento MAGA (Make America Great Again).

A conclusão é de um relatório conjunto do Conselho Europeu de Relações Exteriores (ECFR) e da Fundação Cultural Europeia, publicado esta terça-feira. 


Segundo o relatório o discurso de JD Vance, na Conferência de Segurança de Munique em fevereiro de 2025, marca o momento em que a guerra cultural contra a Europa foi declarada abertamente, quando o vice-presidente americano afirmou que “a Europa estava a afastar-se dos valores fundamentais partilhados”. “Na guerra cultural de Trump, a própria Europa é o alvo”, afirma Pawel Zerka, investigador do ECFR.


No seu discurso JD Vance revelou a intenção dos EUA interferirem nas eleições europeias, enquadrar as relações entre EUA e UE como uma “divisão de valores” e tornar a liberdade de expressão o grito de guerra dos partidos que defendem a causa Maga na Europa, explica Pawel Zerka, ao jornal britânico The Guardian. 


O responsável pela investigação, Pawel Zerka, acrescenta que Donald Trump “revelou ainda mais as suas intenções a este respeito, excluindo os
líderes da UE das negociações sobre o futuro da Ucrânia, atacando os
principais partidos políticos em todo o continente e extorquindo as
instituições de Bruxelas nas negociações comerciais”. 


A União Europeia deve reagir com firmeza 


O relatório sugere que as divisões no seio da UE, as hesitações e a abordagem de alguns líderes europeus de “apaziguar” ou “distrair” Donald Trump apenas reforçaram a sua posição de influência.


Com base em estudos e sondagens dos 27 Estados-Membros da UE, que revelam que um número suficiente dos países tem governos pró-europeus, e que a opinião pública europeia é forte o suficiente, o relatório argumenta que a UE precisa de assumir que está a ser alvo de uma guerra cultural, rejeitar a bajulação como estratégia em relação a Trump e reagir com firmeza, com instrumentos próprios como a Lei dos Serviços Digitais e ferramentas comericias.Apesar da pressão de Washington, as sondagens mostram um forte sentimento pró-Europa entre os cidadãos.


Segundo o relatório, os líderes europeus gastam demasiado tempo a reagir a crises externas e internas criadas pelo próprio presidente dos EUA e os seus aliados europeus, entre eles Viktor Orbán, Robert Fico, Giorgia Meloni – que vão desde ameaças de tarifas até aos gastos com segurança e os receios relacionados com a imigração.


Os dados do Eurobarómetro revelam que a confiança dos cidadãos da UE está no nível mais alto desde 2007 e aumentou em 12 países, principalmente em Portugal, França, Suécia e Dinamarca, desde que Trump regressou à Casa Branca. Aliás poucos partidos defendem a saída da União, pelo contrário, a maioria defende que a UE deveria ter um papel mais forte na proteção contra crises globais e riscos de segurança. 


“Portugal desempenha o papel de tentador”

Segundo o relatório, Portugal desempenha o papel de “tentador” na guerra cultural da Europa com a América de Trump, porque apesar da sua pertença à Europa normaliza a narrativa trumpista para evitar confrontos com Washington. “O governo de centro-direita do primeiro-ministro Luís Montenegro continua claramente pró-europeu. Mas a forte tradição atlantista de Portugal também molda suas escolhas”, afirma. 

“Lisboa equilibra o seu compromisso com a Europa com cautela em relação a Trump”, de acordo com a análise


Apesar da indignação da corrente dominante com o desrepeito de Trump pelas normas transatlânticas, poucos países desejam provocar Washigton. É o caso de Portugal, com a “aceitação das tarifas dos EUA e do acordo de 5% para as despesas com a defesa, mesmo quando os líderes consideram que estas não são as ideais”. 


Ventura imita o estilo combativo de Trump

O estudo também destaca a influência política e ideológica do movimento MAGA em Portugal veículado pelo líder do partido populista de direita Chega, André Ventura, que reproduz a retórica de Donald Trump nomeadamente na luta contra a imigração “onde encontra terreno fértil”, apontando que 68% dos portugueses afirmaram recentemente que a política migratória era demasiado permissiva. 


“O seu líder, André Ventura, admira abertamente Trump. Ele assistiu à sua tomada de posse e imita o seu estilo combativo”, pode ler-se no relatório, argumentando que “Ventura criticou veementemente a imigração, a “ideologia de género” e a “classe política parasitária”, num comício dos Patriots for Europe em Madrid. 

No entanto, ressalva que o líder do Chega também “criticou a posição de Trump sobre Gaza e o seu cepticismo em relação à UE e à NATO”.