Há nova data no horizonte para a primeira missão tripulada da agência espacial norte-americana NASA em mais de meio século: Fevereiro de 2026. Será a Ártemis II, a segunda missão do actual programa espacial dos Estados Unidos, e cuja missão será orbitar a Lua, testando a segurança de regressar daqui a uns anos para pousar astronautas no satélite natural da Terra.
A informação foi confirmada por Lakiesha Hawkins, vice-administradora interina da NASA durante uma conferência esta terça-feira. “Estamos a acelerar os processos tanto quanto podemos para poder lançar em Fevereiro”, afirmou a responsável norte-americana, citada pelo jornal espanhol El País. Nesta viagem – de ida e volta – à Lua, a data prevista era Abril de 2026, tendo sido agora indicado que poderá ser antecipado para Fevereiro.
A missão Ártemis II servirá de teste antes do grande objectivo deste programa espacial: voltar a pôr humanos na Lua. A última vez que tal aconteceu foi há mais de 50 anos, a 11 de Dezembro de 1972. Nesse dia, Eugene Cernan e Harrison Schmitt (o único cientista a caminhar na Lua) assumiram o papel de protagonistas na última alunagem de humanos. Depois desta missão Apolo 17, nunca mais houve humanos na Lua. A Ártemis III prevê o envio de astronautas para o solo lunar, mas tal não acontecerá antes de 2027.
A primeira oportunidade para lançar a Ártemis II será a 5 de Fevereiro do próximo ano. Quando for lançada, a missão, com quatro astronautas a bordo da cápsula Órion, permitirá testar e validar vários sistemas cruciais, como o de suporte de vida dos astronautas. Será a primeira missão tripulada dos Estados Unidos à Lua desde os anos 1970.
China na corrida
O primeiro voo do programa espacial norte-americano já aconteceu em 2022. À terceira tentativa, a cápsula Órion descolou sem tripulação – a bordo do foguetão SLS – para uma viagem à Lua que permitiu testar a capacidade desta cápsula em resistir à reentrada na atmosfera, por exemplo.
Esta nova missão, a Ártemis II, prevê uma viagem de dez dias com quatro astronautas seleccionados e apresentados já em 2023: Christina Koch, Jeremy Hansen, Victor Glover e Reid Wiseman (que será o comandante) entrarão na restrita lista de humanos que foram ou estiveram a orbitar a Lua. A cápsula orbitará uma vez o satélite antes de regressar ao planeta Terra.
A equipa que estará na cápsula da missão Ártemis II: Christina Koch, Victor Glover, Jeremy Hansen e Reid Wiseman (à frente)
NASA
A validação da cápsula Órion e das suas condições de segurança para os astronautas é uma das prioridades desta viagem. O módulo desta cápsula, que garante ar, água, electricidade ou controlo de temperatura à tripulação, foi construído por empresas europeias seleccionadas pela Agência Espacial Europeia.
Nesta missão, a Órion ainda descolará acoplada ao foguetão SLS. No entanto, na Ártemis III, o foguetão seleccionado é o Starship, desenvolvido pela SpaceX de Elon Musk. O veículo conseguiu o seu primeiro voo completo no final de Agosto após nove tentativas fracassadas, mas não se sabe ainda se estará a postos para garantir o voo até à Lua daqui a menos de dois anos.
As dúvidas sobre esta terceira missão do programa espacial norte-americano adensam também as dúvidas sobre a corrida à Lua. Inicialmente, numa meta imposta por Mike Pence (vice-presidente no primeiro mandato de Donald Trump), o objectivo dos Estados Unidos era pousar humanos na Lua em 2024. Essa barreira tem sido alterada ano após ano. Do outro lado, a China mantém-se fixa na meta de pousar astronautas na Lua em 2030, com vários testes bem-sucedidos dos seus foguetões.
A renovada ambição de estar na Lua nasce sobretudo do potencial que o “lado oculto” da Lua – ou seja, a face que nunca vemos (dado que os movimentos da Lua e da Terra são sincronizados) – poderá ter para outros saltos. A exploração lunar deste lado da Lua, a que a China chegou com um robô já em 2019, será fundamental para aprofundar a história do satélite da Terra, mas também para testar as condições de habitabilidade desta zona – avaliar a capacidade de germinação de plantas, por exemplo. Se tiver estas condições, poderá ser uma zona perfeita para ter uma base lunar que sirva inclusive de “trampolim” para missões a Marte.
Nos planos dos Estados Unidos está precisamente a criação de uma estação espacial que orbite a Lua – será a missão Ártemis IV. Essa estação, a Gateway, permitiria apoiar futuras alunagens e ainda fazer de “trampolim” para colocar astronautas em Marte na próxima década. Do lado chinês, há um aliado de peso: a Rússia, com quem já assinou um memorando para a criação de uma estação espacial lunar. O investimento chinês na Lua tem dado frutos. À terceira, foi de vez: foi o terceiro país a recolher rochas da Lua e o primeiro a alunar no lado oculto do satélite natural da Terra.