Vista interna do Templo de Osíris em Taposiris Magna
“O último segredo de Cleópatra”. Mistério reacende com novas descobertas no Egito.
Um novo documentário da National Geographic, ‘Cleopatra’s Final Secret’ (‘O Último Segredo de Cleópatra’), vem reacender um dos maiores enigmas da história antiga: onde estão os restos mortais de Cleopatra VII, a última rainha do Egito.
Escavações recentes em Taposiris Magna, um templo situado na costa mediterrânica, revelaram centenas de moedas com o retrato de Cleópatra VII e um antigo porto submerso. Ambos são fortes indícios de que o túmulo da soberana poderá estar próximo, acredita a arqueóloga Kathleen Martinez, responsável pela investigação.
A revelação faz parte do documentário que estreia a 25 de setembro no National Geographic e está disponível nas plataformas Disney+ e Hulu. A produção acompanha mais de quinze anos de trabalho de Martinez, que desde 2005 lidera escavações no templo dedicado à deusa Ísis.
Durante os últimos anos, a equipa de Martinez encontrou centenas de moedas de bronze com a imagem de Cleópatra VII em diferentes zonas do templo. Mais de 200 surgiram no pátio, cerca de 300 junto à entrada e outras em pontos dispersos do complexo. A descoberta mais surpreendente é mais recente: mais de 330 moedas foram desenterradas de uma “trincheira sagrada” oculta junto a uma das paredes do templo, aparentemente escondida de propósito, aponta o Live Science.
As moedas, utilizadas como oferendas à deusa Ísis, retratam Cleópatra com a iconografia típica do seu reinado. Diz a equipa que a quantidade e o local das descobertas reforçam a hipótese de que a rainha possa ter sido sepultada em Taposiris Magna, um espaço que serviu de necrópole de elite no final do período helenístico. Entre os achados surgiram ainda um busto possivelmente da própria Cleópatra, restos de cosméticos, uma maquete de um faraó desconhecido e um anel com a imagem da deusa Hathor e uma inscrição grega que evoca o deus solar Rá.
A investigação revelou igualmente a existência de um porto submerso nas imediações do templo, utilizado durante o reinado de Cleópatra. Foram identificados fragmentos de ânforas, âncoras de pedra e metal e vestígios que comprovam a intensa atividade marítima na época. O túmulo pode estar numa das áreas hoje submersas, acredita-se, especialmente depois de ter sido descoberto um túnel subterrâneo que conduz até ao porto.
Cleópatra VII reinou entre 51 e 30 a.C. e deixou cicatrizes na história mediterrânica. Aliada e amante de Júlio César, com quem teve um filho, Cesarion, uniu-se depois a Marco António, general romano e co-regente da República. Da relação nasceram três filhos, mas a aliança não resistiu à guerra civil contra Caio Octavio, futuro imperador Augusto. Após a derrota de António e consequente avanço romano, Cleópatra optou pelo suicídio em vez de se tornar prisioneira em Roma.
Apesar da sua notoriedade, o túmulo da rainha nunca foi encontrado. Fontes antigas não dizem muito sobre o local da sua sepultura.
Para Martinez, a ligação espiritual de Cleópatra à deusa Ísis e a acumulação de moedas e objetos do seu tempo em Taposiris Magna sustentam a hipótese de ali se encontrar o túmulo perdido. Mas muitos académicos permanecem céticos.
Andrew Meadows, professor em Oxford, reconhece que as moedas são autênticas e datam do reinado de Cleópatra, mas sublinha que não existe qualquer evidência literária ou arqueológica que sugira que foi enterrada naquele local. Thomas Faucher, do Centro de Estudos Alexandrinos no Egipto, partilha da mesma posição, e lembra que a ideia foi rejeitada por grande parte da comunidade científica.
Sitta von Reden, da Universidade de Friburgo, acredita que Cleópatra terá sido sepultada em Alexandria, provavelmente numa zona atualmente submersa junto ao palácio real. Ainda assim, admite que templos como o de Taposiris Magna possam ter reivindicado possuir o corpo da rainha por razões de prestígio religioso.