lunamarina/DepositPhotos

Os nossos dedos “começaram” há cerca de 380 milhões de anos, nas cloacas de um peixe pré-histórico e não nas barbatanas, aponta novo estudo.

Um novo estudo sugere que a razão pela qual os humanos têm dedos pode remontar a uma surpreendente herança genética: as cloacas dos peixes.

A investigação, publicada na Nature a 17 de setembro, indica que o interruptor de ADN responsável pela formação de dedos e dedos dos pés terá tido origem há cerca de 380 milhões de anos, regulando inicialmente o desenvolvimento dessas estruturas nos peixes.

Segundo Denis Duboule, geneticista de desenvolvimento da Universidade de Genebra aqui citado pelo Science Alert, trata-se de um exemplo claro de como a evolução reutiliza mecanismos antigos para novas funções: em vez de criar um sistema regulador totalmente novo para os dedos, a natureza adaptou um já existente, inicialmente ativo na cloaca.

A origem dos dígitos nos tetrápodes – animais com quatro membros – tem sido uma questão central para a ciência. Embora a teoria mais comum defenda que os dedos derivam das barbatanas, a nova investigação aponta para um processo mais complexo.

A equipa de investigadores dos Estados Unidos e da Suíça comparou os genomas de ratos e peixes-zebra, focando-se nos genes Hoxd e nas regiões adjacentes que contêm os interruptores de ADN responsáveis pela sua ativação. Embora os peixes-zebra não possuam dígitos e lhes faltem alguns destes genes, mantêm o cenário regulador associado. A questão era: que função teria este sistema nos peixes?

Para responder a essa questão, os cientistas marcaram alguns destes interruptores com marcadores fluorescentes em embriões de ratinho e de peixe-zebra. Nos ratos, a atividade surgia nos dedos; nos peixes-zebra, na cloaca. Quando recorreram à técnica CRISPR-Cas9 para eliminar estas regiões, verificaram que os embriões de rato desenvolviam dedos e pés defeituosos, enquanto nos peixes era a cloaca que não se formava corretamente – e não as barbatanas.

Os resultados indicam que a função original desta paisagem genética seria apoiar o desenvolvimento da cloaca, o orifício multifuncional usado na excreção e reprodução. À medida que os tetrápodes evoluíram dos seus antepassados aquáticos, o mesmo mecanismo foi reaproveitado para moldar as extremidades dos membros.

Embora sejam necessárias mais investigações, a descoberta oferece uma nova perspetiva sobre a forma como a evolução recicla ferramentas biológicas: a origem dos nossos dedos pode estar, afinal, nas traseiras de um peixe pré-histórico.


Subscreva a Newsletter ZAP


Siga-nos no WhatsApp


Siga-nos no Google News