É um volte-face do Presidente norte-americano, Donald Trump, em relação ao conflito ucraniano. Esta terça-feira, após ter discursado na Assembleia-Geral das Nações Unidas, em Nova Iorque, e de se ter encontrado com o homólogo ucraniano Volodymyr Zelensky, Trump disse “conhecer e compreender inteiramente a situação militar e económica da Ucrânia e da Rússia” e considera agora que Kiev “está em posição de lutar e recuperar toda a Ucrânia na sua forma original”.

“Com tempo, paciência, e com o apoio financeiro da Europa e, em particular, da NATO, as fronteiras originais de quando esta guerra começou são claramente uma opção” para a Ucrânia, escreveu Trump.

“A Ucrânia deve ser capaz de recuperar o seu país na forma original e, quem sabe, talvez ir ainda mais longe”, acrescentou, apontando que “Putin e a Rússia têm um grave problema económico e este é o momento de a Ucrânia agir”.

“De qualquer das formas, desejo o melhor a ambos os países. Vamos continuar a fornecer armas à NATO para a NATO fazer o que quiser com elas. Boa sorte a todos!”, finalizou.

Ao encontrar-se com o Presidente francês, Emmanuel Macron, Trump reforçou o que tinha escrito nas redes sociais: “Deixem-nos recuperar o seu território”.

Momentos antes, outra afirmação de grande relevo. Ao ser questionado por jornalistas, à margem do encontro com Zelensky, se considerava que os países membros da Aliança Atlântica deveriam abater aeronaves russas detectadas no seu espaço aéreo, após as recentes incursões de aviões e drones de Moscovo na Estónia e na Polónia, Trump respondeu que “sim”.


Já durante o seu longo discurso na Assembleia-Geral da ONU, Trump tinha sido particularmente crítico da conduta russa, expressando a sua frustração com a ausência de passos concretos para a resolução do conflito após a mediática cimeira que reuniu o Presidente dos EUA e o homólogo russo no Alasca. Admitiu ter achado inicialmente que seria “mais fácil” alcançar a paz na Ucrânia devido à sua relação com Vladimir Putin, e ameaçou a Rússia com “uma série muito forte de tarifas poderosas” caso Moscovo continue a não estar disposta a “chegar a um acordo para terminar a guerra”.

E criticou, ao mesmo tempo, os aliados europeus. “A Europa tem de se chegar à frente”, disse, e parar de comprar petróleo russo. Era uma mensagem com um lote reduzido de destinatários. Entre os poucos clientes europeus do crude russo estão, precisamente, dois países com governos ideologicamente próximos do trumpismo (e do Kremlin): a Hungria e a Eslováquia.


“É meu amigo”, disse Trump de Viktor Orbán, o primeiro-ministro húngaro, ao ser questionado sobre a decisão de Budapeste de continuar a importar petróleo russo. “Ainda não falei com ele, mas sinto que se o fizesse, ele talvez parasse, e acho que vou fazer isso”, acrescentou.

Trump está “absolutamente correcto” ao fazer tal exigência, declarou já a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que também se encontrou esta terça-feira com o Presidente dos EUA.

“Estamos a tratar desse assunto. Já reduzimos o fornecimento de gás da Rússia, acabámos completamente com o carvão russo, e também reduzimos maciçamente o fornecimento de petróleo. Mas ainda há algum a chegar ao continente europeu”, reconheceu Von der Leyen.

“Então o que vamos fazer agora? Vamos impor sanções aos portos de onde os produtos energéticos estão a vir da Rússia. E queremos impor taxas nas importações de petróleo que ainda estão a chegar à União Europeia”, acrescentou a responsável comunitária.