A ligação ao PCP — apesar de já não ser militante — é antiga, mas desta vez Carvalho da Silva não será visto a fazer campanha pelos comunistas. Nas eleições autárquicas deste ano, enquanto eleitor de Lisboa, o antigo secretário-geral da CGTP admite que “provavelmente” votará na coligação liderada por Alexandra Leitão (PS, Livre, BE e PAN), defendendo que a autarquia da capital beneficiaria de uma “solução de esquerda”.
No programa Comissão de Inquérito, da Rádio Observador, Carvalho da Silva explica que desde que se afastou, de forma “progressiva mas orgânica”, do PCP e que está “mais próximo” do partido nalgumas eleições e menos noutras. Será o caso das autárquicas: “Vêm aí umas [eleições] em que não vou estar [próximo]. Nas autárquicas do ponto de vista geral estou, em Lisboa talvez não”, revelou esta terça-feira.
Tudo porque nas autárquicas há um “pormenor” técnico que não se verifica nas legislativas: “Quem ficar à frente é mesmo a força que preside à câmara. Não há outras maiorias“, recorda. Ou seja, nas câmaras municipais não há espaço para modelos como a geringonça — e por isso, mesmo que desgostando do conceito de voto útil, Carvalho da Silva defende que “é preciso uma solução à esquerda” e, assim sendo, “provavelmente” votará na coligação de Alexandra Leitão.
Manuel Carvalho da Silva: “Câmara de Lisboa? Talvez Alexandra Leitão”
Isto não significa, frisa repetidamente, que não compreenda a decisão do PCP e de João Ferreira, “homem de esquerda”, de não se juntarem à coligação que une o resto da esquerda em Lisboa. “Compreendo perfeitamente a posição do PCP”, garante. “Está a dar sinais que importa serem lidos com atenção na sociedade portuguesa, porque há um resvalar para uma permeabilidade a forças da extrema-direita e ultraconservadoras e fascistas e uma secundarização dos efeitos da economia que vivemos. Está a desempenhar um papel que acho muito importante e quer marcar distâncias e ocupar o seu espaço, e isso é absolutamente legítimo”.
A posição será, assim, diferente da que assumiu ainda nas últimas eleições legislativas, em maio, quando votou e fez campanha pela CDU — chegou aliás a gravar uma conversa com o secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, para as redes sociais dos comunistas.
Na Comissão de Inquérito, o antigo sindicalista contou um episódio curioso, dizendo ter “simpatia pessoal” para com Carlos Moedas. “Quando ficou liberto da condição de comissário europeu, telefonei-lhe e convidei-o para uma tarefa pequenina e ele aceitou, fui a primeira pessoa que o convidou para coisa uma concreta no país quando terminou”, relatou.
Mas os últimos tempos não reforçaram essa simpatia: “Tem dado sinais de comportamento pessoal que sinceramente me irritam. Será saudável para a cidade de Lisboa e não só que não seja vencedor das próximas eleições”.
No mesmo programa, Carvalho da Silva admite um provável voto no candidato comunista António Filipe nas eleições presidenciais, lamentando mais uma vez que a esquerda não se tenha unido em torno de uma plataforma comum e acreditando que já não o virá a fazer: “Não tenho essa ilusão. A fragmentação e atomização é muito grande em muitos planos, e na política também. É preciso conjugar esforços. Ouço muitas vezes: ‘Vamos a isso! Mas em torno da minha opinião…’”, lamentou.
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