É o caso mais longo documentado da doença – e ajuda a perceber o funcionamento do coronavírus. Doente tinha SIDA há quase 20 anos.
Um homem de 41 anos nos Estados Unidos viveu com COVID-19 durante mais de 750 dias seguidos, registando o caso mais longo documentado da doença e fornecendo novas informações sobre como o vírus pode evoluir em indivíduos imunocomprometidos.
O homem, que vivia com HIV/SIDA desde 2002, não seguia de forma consistente a terapêutica antirretrovírica (TAR). Contraiu COVID-19 em maio de 2020 e apresentou sintomas persistentes, incluindo tosse, fadiga e dores de cabeça. Ao longo de mais de dois anos, testou repetidamente positivo para o vírus, mantendo-se infetado até à sua morte.
Investigadores da Medical University of South Carolina recolheram oito amostras clínicas do paciente, utilizando o sequenciamento genómico para acompanhar a evolução do vírus no seu organismo.
O estudo revelou mutações significativas na proteína spike do vírus, permitindo-lhe escapar aos anticorpos e melhorar a sua ligação às células humanas. Algumas destas mutações apresentaram semelhanças notáveis com as observadas posteriormente na variante Ómicron, sugerindo que infeções prolongadas em indivíduos imunocomprometidos podem servir de terreno fértil para o surgimento de novas variantes potencialmente perigosas.
Ao contrário das infeções na população em geral, em que a transmissão repetida cria gargalos genéticos, o vírus num único hospedeiro comprometido pode evoluir de forma contínua. A investigação constatou que, apesar da circulação global das variantes Alfa, Delta e Ómicron, não ocorreu superinfecção, evidenciando a adaptação específica do vírus a este indivíduo.
O caso sublinha a necessidade urgente de acesso a tratamentos eficazes contra o HIV, tanto para proteger pacientes imunocomprometidos como para reduzir oportunidades de evolução viral. O estudo apela também a uma maior atenção das autoridades de saúde pública às populações vulneráveis, de forma a prevenir o surgimento de variantes de COVID-19 mais mortais, salienta a Discover Magazine.
“Este relatório enfatiza que o SARS-CoV-2 pode estabelecer uma infeção crónica e não letal em indivíduos imunocomprometidos, conduzindo a uma evolução viral considerável”, concluíram os investigadores, destacando o duplo desafio de proteger pacientes de alto risco e de mitigar futuras ameaças pandémicas.