A Câmara Municipal de Santarém está a desenvolver um projecto de combate ao lagostim vermelho da Louisiana, uma espécie invasora que pode comprometer o equilíbrio dos ecossistemas ribeirinhos. Promover a captura para consumo deste crustáceo é uma das várias medidas previstas.
A chefe da Divisão de Ambiente e Sustentabilidade da autarquia, Maria João Cardoso, explicou que o lagostim vermelho (Procambarus clarkii) “destrói os habitats aquáticos, degrada a qualidade ecológica da água e provoca erosão das margens fluviais”. É também responsável pela “redução significativa da biodiversidade, sobretudo das espécies mais sensíveis”.
É uma espécie “altamente resiliente e predadora”, introduzida através de Espanha, nos anos 1970, mas cuja presença nos cursos de água portugueses se tem intensificado nos últimos anos. Como acontece em geral com as espécies invasoras, é muito difícil de erradicar.
Para enfrentar o problema, a Câmara de Santarém desenvolveu o projecto InvaCrustacea, em parceria com a Escola Superior Agrária de Santarém, o Serviço de Protecção da Natureza e do Ambiente (SEPNA) da GNR, o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), a Estação Zootécnica Nacional e empresários ligados aos centros de recepção de lagostim.
O projecto, co-financiado pelo Fundo Ambiental, representa um investimento global de cerca de 25.200 euros.
É imenso o custo para a economia global das espécies invasoras, que são introduzidas num ecossistema por acção humana. Um estudo divulgado em 2023 calculou que, só em 2019, as invasoras causaram prejuízos anuais no valor de 423 milhares de milhões de dólares (390 milhares de milhões de euros) a nível mundial. É bastante acima do PIB de Portugal que, em 2024, chegou aos 285 mil milhões de euros.
“O objectivo principal é monitorizar a presença e evolução destas espécies invasoras, nomeadamente no rio Alviela, e promover uma resposta coordenada entre ciência, gestão territorial e fiscalização”, adiantou Maria João Cardoso.
Capturar e exportar
Os dados recolhidos mostram que a progressão do lagostim “está a aumentar da foz para a nascente” do Alviela, o que representa “uma ameaça crescente para a fauna e flora autóctones”, sublinhou.
Entre as medidas de controlo está a promoção da captura do lagostim para consumo. Esta estratégia permite reduzir a presença da espécie nos ecossistemas e incentiva a exportação, resumiu Maria João Cardoso, e está de acordo com as medidas do Plano Nacional de Controlo do Lagostim Vermelho, aprovado em 2021 e coordenado pelo ICNF.
“Estamos a promover a recolha do lagostim por pescadores locais, que o entregam em centros de recepção autorizados, permitindo a exportação para mercados como Espanha, Estados Unidos e China”, afirmou a responsável. “Esta abordagem permite reduzir a pressão sobre os ecossistemas e, ao mesmo tempo, criar emprego e dinamizar a economia local”, adiantou a responsável do município de Santarém.
A autarquia está também a preparar um documento estratégico, elaborado com os parceiros do projecto, para consolidar as medidas de mitigação e propor alterações ao modelo de licenciamento e fiscalização.
“Identificámos lacunas no reporte das capturas e na fiscalização da actividade, pelo que estamos a trabalhar num manifesto conjunto que poderá servir de base para futuras políticas públicas”, referiu Maria João Cardoso. O modelo desenvolvido poderá ser replicado por outros municípios. “A articulação entre conhecimento científico, acção local e envolvimento dos actores económicos é essencial para travar esta ameaça ecológica”, defendeu.