Há praticamente dois anos que a resposta à pergunta ‘Quando abrirá o centro logístico da Amazon em Badajoz?’ continua sem resposta. Ninguém sabe. Ao que parece, nem a própria gigante americana. Questionada pelo Nascer do SOL, a empresa nada adiantou. Resumindo: é incerto quando o centro logístico vai abrir as portas, se é que as abrirá.

Trata-se, portanto, um grande elefante branco, cuja construção começou no ano de 2021 na Plataforma Logística do Sudoeste Ibérico e o objetivo era criar um armazém para a distribuição de encomendas na Península Ibérica, incluindo Portugal, havendo a expectativa de criar cerca de 900 postos de trabalho. Em 2023, no início, a infraestrutura estava pronta a funcionar, mas nada de abrir as portas. Estas instalações ocupam uma área de quase 60.000 metros quadrados e estão construídas num terreno de quase 200.000 metros quadrados.

Segundo o site COPE, as instalações que a empresa norte-americana construiu em Badajoz não entrarão em operação este ano. As mesmas fontes garantiram que esses planos costumam ser anunciados com meses de antecedência, normalmente seis.

Mas vamos à história. Apesar de estar pronto para funcionamento desde março de 2023, em outubro desse mesmo ano, a empresa informou a Junta de Extremadura que não abriria o centro por um período de, pelo menos, dois anos. Em causa estaria um «reajuste nas suas previsões de crescimento na Europa» feitas com base em dados da era Covid-19, que não foram confirmados.

Por essa altura, o conselheiro de Economia da Junta de Extremadura, Guillermo Santamaría, admitiu que esta decisão da gigante provocou uma «expectativa frustrada» e detalhou que não houve apoio financeiro nem subsídios públicos: a Amazon pagou todas as licenças necessárias.
Também o alcaide de Badajoz, Ignacio Gragera, considerou a notícia do adiamento «muito má para a cidade» e expressou esperança de que os números económicos mudassem e a inauguração se concretizasse futuramente.

A verdade é que, passados praticamente dois anos, nada mudou. O espaço continua lá, com manutenção, segurança e fontes próximas chegaram a garantir que a Amazon não tem intenção de vender ou alugar aquelas instalações, que poderá vir a usar no futuro.

Apesar de poder parecer que a empresa esqueceu o país, é preciso lembrar que a Amazon tem investido muito em Espanha e até já abriu outro centro depois de ter terminado o de Badajoz. A lista é longa e percebe-se que não será por problemas financeiros que Badajoz continua sem perspetiva de abertura. Só que ninguém conhece o motivo.

O investimento em Espanha
A Amazon Spain Fulfillment conta atualmente com 11 grandes plataformas de distribuição na Espanha, seis das quais foram inauguradas nos últimos três anos. Até o início da década, a Amazon contava com apenas três grandes plataformas: em San Fernando de Henares (Madrid), El Prat de Llobregat (Barcelona) e Illecas (Toledo). Mas tem crescido muito desde então.

Em 2020, o tiro de partida foi dado com a abertura dos centros em Alcalá de Henares (Madrid) e Dos Hermanas (Sevilha). Um ano mais tarde seguiram-se os de Illescas (Toledo) e Múrcia. Em 2022, o de Onda (Castellón) e em 2023, os de Far d’Empordà (Girona) e Zaragoza. Por último, em setembro do ano passado, o destaque vai para o centro de Siero (Astúrias).

No total, a empresa de comércio eletrónico possui 40 pontos de distribuição em toda a Espanha, incluindo não apenas as grandes plataformas integradas à Spain Fulfillment, mas também centros menores, agrupados sob outra subsidiária, a Amazon Row Transport.

Elvas e Campo Maior podiam benefeciar
Os dados sobre o centro de Badajoz mostravam que, em pleno funcionamento, a estrutura podia criar 500 postos de trabalho diretos inicialmente, podendo chegar a 2.000 quando o projeto estivesse em plena operação.

Nesse sentido, o centro logístico da Amazon em Badajoz teria um impacto significativo para Elvas e Campo Maior, especialmente ao criar oportunidades de emprego e melhorar a conectividade regional. No entanto, ainda que esses municípios possam ganhar com o aumento do comércio e da visibilidade, também podem enfrentar desafios económicos com a migração de trabalhadores e a necessidade de acompanhar o crescimento logístico na região.

Questionados pelo nosso jornal se têm alguma informação sobre o futuro deste centro logístico e como encaram este impasse, os dois municípios não quiseram responder.

Números da Amazon
Certo é que a gigante norte-americana tem crescido e os números enviados ao SOL por Henrique Tomé, analista da XTB, mostram isso mesmo: «Os resultados do segundo trimestre da Amazon superaram as já elevadas expectativas: a receita aumentou 13% face ao ano anterior, para 167,7 mil milhões de dólares, e o lucro por ação diluído atingiu 1,68 dólares, significativamente acima do consenso do mercado».

Mas há motivos para preocupação com a Amazon Web Services (AWS). Henrique Tomé explica que «a margem operacional da AWS desceu para 32,9% no segundo trimestre de 2025, uma redução de 660 pontos base face ao primeiro trimestre (39,5 %) e de 260 pontos base em relação ao mesmo período do ano anterior (35,5 %)», lembrando que a administração atribuiu esta queda «a uma vaga de investimentos ‘antecipados’ destinados a responder à crescente procura por inteligência artificial generativa».

Para o terceiro trimestre, o analista detalha que a Amazon «antecipa vendas líquidas entre 174 mil milhões e 179,5 mil milhões de dólares (+10 a +13 % a/a), com um lucro operacional estimado entre 15,5 mil milhões e 20,5 mil milhões» e que o valor médio destas projeções «fica ligeiramente abaixo da estimativa de Wall Street (19,5 mil milhões), mas ainda assim acima dos 17,4 mil milhões registados no ano passado».