MoMA

“Number 1A, 1948”, Jackson Pollock (1948)

No meio do colagem caótico de cores de Number 1A, 1948, um tom de azul intrigava os especialistas. A sua origem foi finalmente desvendada.

A obra de grande formato Number 1A, 1948 do pintor norte-americano Jackson Pollock usa um tom de azul vibrante que até agora era desconhecido.

Recentemente, uma equipa de investigadores que analisou a tinta usada pelo célebre pintor diretamente da tela no Museum of Modern Art (MoMA) de Nova Iorque, descobriu que se trata de azul de manganês puro.

Esta tinta era popular nos anos 1940, mas deixou de ser produzida na década de 1990.

Pollock, cujas pinturas são famosas pelo caos abstrato e vibrante que se espalha por enormes telas, criava as suas obras com a chamada “técnica do gotejamento”, método em que o artista deixa a tinta escorrer ou a deita sobre a tela, criando salpicos de cor intensa — curiosamente, usando conhecimentos de física.

Hoje, muitas destas obras estão em museus de arte por todo o mundo, nota a Popular Mechanics.

Um destes salpicos, porém, manteve-se um mistério durante quase 80 anos: um tom de azul presente em Number 1A, 1948, que permaneceu não identificado até a equipa de investigadores ter analisado uma lasca de tinta da obra exposta no MoMA, em Nova Iorque.

Depois de analisarem a tinta com várias técnicas laboratoriais, incluindo o uso de laser para dispersar a luz e medir as vibrações das moléculas da tinta, os dados permitiram à equipa determinar a “impressão química” do tom de azul, identificando-o como azul de manganês. Os investigadores publicaram os resultados no Proceedings of the National Academy of Sciences.

O azul de manganês, no passado, não era um mistério. Muito utilizado, não apenas na arte, mas também na coloração de cimento para piscinas, acabou por ser abandonado devido a preocupações ambientais, tornando-se obsoleto na década de 1990. A sua presença numa pintura de Pollock devolve-lhe notoriedade.

“É muito interessante perceber de onde vem um tom de cor tão marcante a nível molecular”, disse Edward Solomon, coautor do estudo e investigador da Universidade de Stanford, à AP News.

Investigações anteriores tinham destacado os tons de vermelho e amarelo que compõem a paleta central da pintura, com quase três metros de largura, mas, como escreveram os investigadores, “uma das suas mais icónicas pinturas de ação” ainda não tinha identificado aquele tom específico de azul.

A espectroscopia Raman permitiu concluir tratar-se de azul de manganês puro, provavelmente retirado diretamente de um recipiente de tinta, como Pollock gostava de fazer, em vez de misturar tonalidades.

Conhecido por “atirar e gotejar tinta esmalte diluída sobre uma tela não esticada no chão do seu estúdio”, o pintor nova-iorquino incorporava velocidade e improviso no seu processo artístico, nota o MoMA.

A essência das suas obras, por vezes chamadas “drip paintings” e outras vezes “poured paintings” (“pinturas derramadas”, em tradução livre), era tanto a tinta quanto a própria pintura.

“Quando estou a pintar, não estou consciente do que estou a fazer,” dizia Pollock, “Não tenho medo de alterar, destruir a imagem, etc., porque a pintura tem vida própria.”

Inspirado por pinturas de areia Navajo, caligrafia asiática e pelas obras mais violentas de Pablo Picasso, Pollock criou um estilo próprio, mais tarde designado expressionismo abstracto, usando técnicas de verter tinta diretamente sobre telas não esticadas no chão do estúdio.

Pollock gotejava e lançava camadas de tinta sobre a tela, usando, por vezes, facas, paus, espátulas e outros instrumentos para espalhar a tinta diretamente do recipiente. O seu estilo consolidou-se por volta de 1947, levando à criação da monumental Number 1A, 1948.

Casado com a também artista Lee Krasner em 1945, Pollock morreu aos 44 anos, em 1956, num acidente automóvel próximo da sua casa em East Hampton, Nova Iorque. Krasner continuou a promover a sua obra e a construir o seu legado, incluindo a doação de obras importantes à coleção Pollock do MoMA.

É nesse museu que Number 1A, 1948, conhecida pelo tamanho, ação e cor, permanece, com as próprias impressões digitais do pintor junto do topo da tela.


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