O existencialismo é pontuado por reflexões sobre liberdade, angústia e busca de sentido em um mundo sem garantias. O cinema, como forma de arte, de expressão e de reflexão fez dessa filosofia um terreno fértil para desenvolver narrativas que fazem o espectador sair da zona de conforto. Nesses filmes, as respostas não vêm mastigadinhas. É preciso usar a inteligência. Personagens que vivem dilemas insolúveis, que são atravessados pela solidão, pelo absurdo e pela necessidade de escolher, ainda que essas escolhas nunca assegurem um desfecho satisfatório.
Explorar essa corrente filosófica não é só acompanhar uma história, mas confrontar com questões reais da vida. A ideia de que a vida é atravessada pelo vazio, mas que ainda somos responsáveis por criar sentido, aparece tanto em enredos sobre fé e transcendência quanto em tramas voltadas para o fracasso cotidiano, a ilusão da fama ou a simples necessidade de continuar vivendo diante do desespero.
Esses filmes não se resumem a entretenimento, mas também servem como espelhos desconfortáveis: o que fazer com a liberdade, com a fé, com a morte ou com a mediocridade? Cada uma dessas respostas nunca é dada, as construída de forma dolorosa e inacabada, como a própria filosofia existencialista. O espectador vai se ver diante de provocações que o obrigam a pensar além do óbvio, conectando-se com filosofias que vai de Kierkegaard a Sartre, de Camus a Simone de Beauvoir.
Meu Nome é Eileen (2023), William Oldroyd
Divulgação / Likely Story
Nos anos 1960, em Boston, uma jovem leva uma vida sufocante e solitária trabalhando em um centro de detenção juvenil. Isolada em sua rotina opressiva e no silêncio de uma casa dominada por tensões familiares, ela encontra na chegada de uma nova psicóloga um inesperado ponto de virada. A mulher, vibrante e carismática, desperta nela curiosidade, desejo e a sensação de que uma vida diferente pode ser possível. O vínculo entre as duas cresce rapidamente, mas o que começa como uma relação de cumplicidade logo assume contornos mais complexos e perigosos. Conforme segredos vêm à tona, a frágil conexão entre elas é colocada à prova, conduzindo a protagonista a escolhas sombrias que irão definir para sempre seu destino.
O Milagre (2022), Sebastián Lelio
Christopher Barr / Netflix
Uma enfermeira inglesa viaja até uma pequena aldeia irlandesa do século 19 para acompanhar o caso de uma jovem que afirma viver sem se alimentar, sustentada apenas pela fé. Cética, mas comprometida com sua missão, a profissional se vê diante de um conflito entre ciência e religião, observando como a comunidade transforma a menina em símbolo sagrado. À medida que os dias avançam, segredos começam a surgir, revelando tensões familiares e sociais. Entre crença, manipulação e verdade, resta à enfermeira decidir até que ponto deve intervir para salvar a vida da criança.
The Discovery (2017), Charlie McDowell
Divulgação / Netflix
Um cientista anuncia ao mundo que conseguiu provar a existência da vida após a morte. O impacto imediato dessa revelação é devastador: milhões de pessoas decidem acabar com a própria vida, acreditando em um destino melhor. No meio desse cenário apocalíptico, um jovem retorna à casa do pai, carregando culpas pessoais e o peso de um passado marcado pela perda. Ao conhecer uma mulher que também guarda cicatrizes emocionais, ele se vê dividido entre a esperança e a dúvida, entre a promessa de algo além da vida e a necessidade de encontrar sentido no presente.
Birdman (2014), Alejandro González Iñárritu
Alison Rosa / Fox Searchlight
Um ator em decadência, conhecido por ter interpretado um herói nos cinemas, decide montar uma peça na Broadway como forma de resgatar sua relevância artística e pessoal. Pressionado por críticos, colegas de elenco e pelo peso do fracasso iminente, ele mergulha em um processo de autodescoberta marcado por delírios e confrontos internos. Entre a obsessão por reconhecimento e a tentativa de se reinventar, sua mente começa a confundir fantasia e realidade. No limite entre o sucesso e a ruína, ele precisa enfrentar a pergunta essencial: o que significa, afinal, ser alguém?