Não será, portanto, surpreendente que a primeira exigência internacional para o reconhecimento da Palestina seja a realização de eleições, legislativas e presidenciais, na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, no espaço de um ano, com monitorização da União Europeia, que se mostrou disponível para intervir neste âmbito. As eleições devem ser abertas a todos “os atores palestinianos comprometidos com a plataforma política da OLP” . Outro ponto da reforma é o reconhecimento do Estado de Israel. Atualmente, Palestina e Israel não se reconhecem mutuamente como Estados, apesar de, em 1993, terem aberto caminho a esse processo com os Acordos de Oslo.
Estes pontos, somados à já mencionada exclusão do Hamas da governação da Faixa de Gaza — que lidera desde a sua eleição em 2006 — e à entrega de todas as armas do grupo à AP, apontam para uma exclusão do grupo palestiniano desta eleição futura. A entrega das armas do Hamas contribui ainda para a definição da política “Um Estado, Um Governo, Uma Lei, Uma Arma”, que prevê que o monopólio da força pertença à AP, como líder legítima da Palestina.
Entre os deveres da AP, elencados no documento, prevê-se ainda “a modernização do currículo palestiniano“, de forma a “promover a cultura de paz na escola”. Membros da comunidade internacional também deixam o mesmo alerta a Israel, que não subscreve o documento. Em causa estão as acusações de que os currículos do sistema de educação palestiniano promovem o “discurso de ódio e incitamento” contra o povo israelita, explica Dahlia Scheindlin, analista política israelita e norte-americana, ao New York Times. Em 2022, um relatório da União Europeia concluiu que muitos manuais palestinianos contêm “antagonismo contra Israel” e, por vezes, não mostram Israel nos mapas e elogiam palestinianos que cometeram atos terroristas. O mesmo relatório refere que os livros israelitas distribuídos nos territórios ocupados removem capítulos inteiros sobre a História da Palestina e “não mencionam as tensões existentes”.
Em fevereiro, Mahmoud Abbas já tinha iniciado reformas noutro ponto alvo de críticas em Telavive: o sistema de pagamentos de pensões às famílias de palestinianos detidos em prisões israelitas com acusações de terrorismo, descrito pelos media israelitas como “pagar para matar”. Esta segunda-feira, perante as Nações Unidas, o presidente anunciou que, ao longo dos últimos sete meses, o sistema foi abolido e foi criado um novo sistema de assistência social. “Este sistema está a ser alvo de uma auditoria internacional por uma empresa especializada internacional”, anunciou.