A escassez de mão de obra técnica está a afetar algumas das profissões mais essenciais na região algarvia. Canalizadores, eletricistas e pintores são cada vez mais difíceis de encontrar – um problema que, apesar de pouco falado, afeta diretamente a vida de quem cá vive.
O Jornal do Algarve falou com vários profissionais destes setores e também com cidadãos que, do outro lado da linha, esperam dias, ou semanas, por um serviço que antes se resolvia “num instante”.

“Ser canalizador não é só apertar tubos”Tiago Faria é canalizador há 24 anos. Aprendeu a profissão numa grande empresa de canalizações e ar condicionado, ao lado de um oficial experiente, e desde então nunca mais largou o ofício.
“Costumo ter bastante serviço. De janeiro a outubro é sempre a abrir. E aqui no Algarve, a falta de canalizadores é evidente”, explica.
A procura é tanta que já teve de recusar trabalho: “É impossível dar conta de tudo. Recebo chamadas de várias regiões do país a pedir orçamentos ou mesmo para fazer o serviço. Há mesmo muita falta de profissionais.”
Apesar de reconhecer que, no passado, a profissão era mal remunerada, Tiago garante que hoje é diferente. “Para mim, atualmente, o salário de um bom canalizador compensa e vale o esforço profissional.”
Tiago sente também maior reconhecimento por parte da população: “Hoje em dia, as pessoas valorizam mais o canalizador, porque são poucas as que querem aprender este ofício.” E reforça: “Ser canalizador não é só saber apertar tubos.”
Já trabalhou em Angola e França, mas hoje está de volta a Portugal. “Nunca desisti da minha profissão. É lamentável ver que os jovens não querem aprender.”
Além disso, destaca a falta de incentivo nas escolas e centros de formação, assim como a escassez de apoios financeiros que possam atrair novos profissionais para o setor.
Segundo o canalizador, no Algarve todos os dias há centenas de chamadas a procurar serviços de canalização. “Há dias em que se conseguem fazer cinco ou seis serviços, e outros dias dois ou três, mas isso é perfeitamente normal. Nem todos os dias são iguais.”
Questionado sobre um conselho para os jovens, Tiago não hesita: “Diria que esta é uma boa aposta profissional, arrisco dizer que é um ofício de vida.”
“Eletricista é uma profissão digna”Florisvaldo Silva, eletricista há mais de duas décadas, conhece bem esta realidade. “Trabalho na área há pelo menos 22 anos. Há muitos profissionais bons, sim, mas ainda há espaço para mais. Falta gente”, conta.
Ao contrário de muitos trabalhadores por conta própria, Florisvaldo lidera uma pequena equipa, o que lhe permite dar resposta à procura constante. “Conseguimos lidar bem com a demanda. Não tenho outra ocupação – é o que sei fazer. Por isso, mesmo com dificuldades, tenho de persistir”, afirma.
A falta de apoio e o peso da burocracia são apontados como entraves à continuidade de muitos destes profissionais. “Em Portugal, o que mais atrapalha são os grandes impostos e a perseguição a quem trabalha por conta própria. Já perdi …