O arquiteto chinês Kongjian Yu (62) morreu na última terça-feira (23) após acidente aéreo na região rural de Aquidauana, localizada no Pantanal, estado do Mato Grosso do Sul. Ele foi o criador do conceito de cidades-esponja e estava no Brasil para participar da 14ª Bienal Internacional de Arquitetura realizada em São Paulo.
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Em entrevista concedida no ano passado ao Brasil Escola, Kongjian explicou que cidades-esponja são áreas urbanas projetadas para absorver, armazenar e purificar a água da chuva, assim como as esponjas fazem com a água.
Em nota, o Instituto de Arquitetos do Brasil afirma que Kongjian Yu deixou um “legado monumental e urgente para o enfrentamento das crises climáticas nas cidades. Sua obra, fundamentada em princípios ecossistêmicos, demonstrou de forma prática e poética como a paisagem pode ser uma infraestrutura vital para a resiliência urbana, integrando homem à natureza de maneira sustentável”.
Leia mais: Cidades-esponja e o combate às inundações no Brasil
O que são cidades-esponja? Conceito do arquiteto Kongjian Yu
Cidades-esponja são ambientes urbanos planejados e projetados para absorver, armazenar e purificar a água da chuva. Elas “utilizam infraestrutura verde, tais como áreas úmidas, telhados verdes, pavimentos permeáveis e florestas urbanas para gerenciar as águas pluviais”, conceitou o próprio criador do termo em conversa com o Brasil Escola em julho de 2024.
Nesse sentido, essa configuração de ambiente urbano se diferencia do sistema tradicional de drenagem que depende de canais e tubos de concreto para desviar a água das áreas urbanas, explicou o profissional.
O chinês destacou que a ideia surgiu da maneira como civilizações antigas administram e manejam a água. Por nascer e ter sido criado em região rural da China, o arquiteto conheceu técnicas de agricultura tradicional. Campos de arroz e agricultura em terraços continham sistemas naturais de retenção e filtragem da água. Segundo ele, isso evidencia uma compreensão profunda do ciclo hidrológico natural e de sua função nos assentamentos humanos.
Yu enfatizou que o objetivo das cidades-esponja é possibilitar um espaço urbano que seja resistente às mudanças climáticas, contribuindo na redução das inundações e ampliando a biodiversidade.
“O caminho para cidades resilientes é uma jornada que exige inovação, colaboração e um profundo respeito pelo ambiente natural. Com base na sabedoria ancestral e na tecnologia moderna, podemos criar paisagens urbanas equipadas para enfrentar os desafios das mudanças climáticas, garantindo um futuro mais seguro e sustentável para as próximas gerações” (traduzido do inglês)
Kongjian Yu
Cecilia Polacow Herzog, paisagista urbana e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN), explica que o funcionamento das cidades-esponja nasce do entendimento de processos e fluxos que ocorrem nas paisagens, tais como o ciclo da água, papel do solo e vegetação, topografia e intervenções feitas na cidade.
Sanya, cidade chinesa que utiliza na prática soluções de cidade-esponja.
Crédito: Divulgação / Turenscape.
Com as cidades-esponjas, os centros urbanos passam a ter soluções baseadas na natureza, tais como: jardins de chuva, biovaletas, bacias de retenção, bacias de detenção, tetos verdes, paredes verdes, elenca Cecília. Enquanto isso, nesta lógica, há uma substituição de áreas extensas pavimentadas, tais como estacionamentos, calçadas, praças pavimentadas.
A intenção é recuperar e regenerar espaços naturais, de acomodação das águas, possibilitar a infiltração e reduzir a velocidade de deslocamento da água, afirma a paisagista. Ela cita que no Brasil há iniciativas sobre o tema sendo implementadas nas cidades de Niterói, Curitiba e Campinas.
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Cidades-esponja e o legado de Kongjian Yu
Cecilia Polacow fez parte de uma equipe conduzida por Kongjian Yu em um projeto de competição no Parque Olímpico do Rio de Janeiro. A profissional que conviveu com o arquiteto chinês destaca a humildade e sabedoria como suas virtudes.
A paisagista que atua como consultora em Soluções Baseadas na Natureza (SBN) elogia a percepção que Kongjian Yu teve em resgatar e observar o conhecimento camponês que fez parte de sua infância e levar essas técnicas para academia.
Atualmente, Polacow desenvolve um guia sobre bacias esponjas para o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) no qual explora o funcionamento das bacias hidrográficas para que elas se tornam esponjas. Ela conta que esteve em contato com Yu que a ajudou ao compartilhar informações e estudos de caso para serem aplicados neste documento.
Cecilia e o arquiteto chinês Kongjian Yu no Rio de Janeiro.
Crédito: Arquivo Pessoal.
Videoaula sobre problemas ambientais urbanos
Saiba quais são as principais questões ambientais que afetam os centros urbanos na videoaula a seguir:
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Por Lucas Afonso
Jornalista