Do outro lado da moeda, na mesma publicação, aumentou ainda mais a pressão sobre a Rússia, que classificou como “um tigre de papel” em vez de uma “Verdadeira Potência Militar”. “Putin e a Rússia estão em GRANDES problemas económicos e esta é a altura de a Ucrânia agir”, escreveu, acrescentando que além de recuperar “a forma original do país”, Kiev “podia, quem sabe, ir além disso”. Pela utilização simultânea das expressões “fronteiras originais” e “fronteiras a partir de onde a guerra começou”, não é claro se Trump refere também à manutenção da Crimeia — território ucraniano, mas que se encontra anexado de facto pela Rússia desde 2014, anos antes da invasão russa de 2022.
Em qualquer um dos casos, esta reviravolta na posição, por si só, não se faz sentir na frente de guerra, que continua bloqueada. “[Trump] precisa de investir mais e falar menos“, criticou Ihor Romanenko, antigo comandante adjunto das Forças Armadas ucranianas à Al Jazeera. Ou seja, passar das palavras aos atos. Mas as simples palavras do Presidente norte-americano foram suficientes para fazer Moscovo e Kiev reagir. A Rússia desvalorizou-as, mas, na Ucrânia, estas acenderam uma esperança de mudança concreta e de mais apoio — um pedido que Zelensky não tardou a reiterar.
No final da semana passada, nas vésperas de partir para Nova Iorque para a Assembleia Geral, Volodymyr Zelensky anunciou que as tropas ucranianas tinham recuperado o controlo de uma série de localidades na frente de combate a leste, na região do Donbass, num total de 360 quilómetros quadrados. Com o Presidente fora da Ucrânia, a contraofensiva continua a dar frutos, segundo a análise do Institute for the Study of War (ISW).
Esta semana, as forças ucranianas somaram avanços na direção de Borova, na região ocupada de Lugansk, e de Dobropillya, em Donetsk, onde as forças russas estavam a avançar rapidamente. De forma mais relevante, a Ucrânia continua a conseguir travar os ataques russos em Pokrovsk, uma cidade estratégica que a Rússia tenta tomar há já um ano, sem sucesso. Ainda que pequena, a contraofensiva é “importante”, defendeu Zelensky. “Não é uma vitória grande, mas significa que não estamos a perder“, declarou, em entrevista à Fox News esta terça-feira.
NEW: US President Donald Trump expressed confidence in Ukraine’s ability to fully liberate all of its internationally recognized territory that Russia currently occupies, following a bilateral meeting with Ukrainian President Volodymyr Zelensky at the United Nations General… pic.twitter.com/pSPUNSfZJ7
— Institute for the Study of War (@TheStudyofWar) September 24, 2025
Apesar dos sucessos militares no Donbass, noutras regiões o cenário altera-se. A sul, a Rússia avançou recentemente em Zaporíjia, o que levou o Exército a demitir o comandante responsável pelas tropas estacionadas na região. Nos últimos dias, as forças ucranianas travaram novos avanços, mas sem conseguir inverter a situação no terreno. Também a norte, em Kharkiv, se verificaram avanços das tropas russas, que não obtiveram resposta ucraniana. Esta terça-feira, o Ministério da Defesa russo anunciou publicamente a intenção de capturar a cidade de Kupyansk, localizada em Lugansk, mas que funciona como “um portão importante” para a região de Kharkiv e para a “faixa fortaleza“, o último território do Donbass que a Rússia não conquistou.
Trata-se de uma declaração controversa da Rússia, que assume publicamente o interesse pelas regiões de Kherson, Zaporíjia, Lugansk e Donetsk, mas não coloca Kharkiv na lista de territórios não-negociáveis para um acordo de paz. No entanto, o ISW argumenta que “o comando militar russo pode estar a delinear explicitamente o seu interesse operacional na área [de Kupyansk] de forma a justificar as baixas significativas e o tempo que as forças russas perderam ao longo do último ano” com os ataques à região. E reitera que, ao ritmo atual, as forças russas demorariam anos a conseguir ocupar Kharkiv.
Ora, esta realidade militar terá sido o foco da breve reunião entre Zelensky e Trump desta terça-feira. À saída, o Presidente Donald Trump declarou que, agora, “conhecia e compreendia totalmente” a situação militar e que, por esse motivo, acreditava na capacidade da Ucrânia para recuperar todos os territórios ocupados — mais de um quinto do seu território.