A Porsche atravessa um mau momento, que teve início pouco depois do lançamento em bolsa como construtor independente e fora do Grupo Volkswagen, apesar deste continuar a ser o “patrão”, ao controlar 75,4% do capital. Depois do IPO em Setembro de 2022, onde conseguiu uns impressionantes 82,50€ por título, o preço das acções da Porsche subiu até 118,90€ (em Abril de 2023), com o mercado a confiar na estratégia da marca. Mas depois chegaram as más notícias e hoje, praticamente três anos depois do IPO, as acções da Porsche foram transaccionadas a apenas 41,45€ (à hora do fecho, a 23 de Setembro de 2025), o que significa uma redução para metade (precisamente 49,76%) do valor da marca.

Mas se esta situação é má, tudo indica que o futuro que espera a Porsche será potencialmente pior, uma vez que o construtor alemão tem dois dos seus principais mercados de costas viradas para os seus modelos, nomeadamente a China e os EUA. Os chineses por uma questão de estratégia interna, pois a economia já não está tão forte como antes e o Governo esforça-se para defender os construtores locais, alguns dos quais até já estão à frente dos alemães em tecnologia e performance. Já o mercado norte-americano que, tal como o chinês, representava cerca de 30% do total das vendas para o fabricante alemão, também colapsou devido às taxas específicas sobre os construtores europeus.

Face à redução das vendas da Porsche, o construtor espera um corte de 1,8 mil milhões de euros nos lucros operacionais de 2025, de acordo com a Reuters. Apesar das vendas de veículos eléctricos estarem a subir, sobretudo na Europa, mas também na China e nos EUA, a Porsche volta a apontar a falta de interesse do mercado em adquirir modelos a bateria para explicar a origem das suas dificuldades, sem mencionar a aposta (que realizou para incrementar o volume) em SUV pesados e menos emocionantes (como os Cayenne e Macan), em vez de desportivos ágeis e rápidos (como os 911, Cayman e Boxster) que lhe grajearam imagem. E basta comparar a evolução do valor das acções da Porsche (em baixo) com as da Ferrari, que vende desportivos e limita a produção de SUV, ou com os títulos da Tesla, que só vende modelos eléctricos, para vermos que não nestes segmentos do mercado que reside o problema.

A quebra das vendas levou a Porsche a voltar a apostar em modelos com motores a combustão electrificados, sejam eles híbridos ou híbridos plug-in, o que significa que o construtor germânico fez marcha-atrás na tecnologia eléctrica, por defender que esta é menos lucrativa. É bom recordar que a Porsche figurou entre os construtores alemães que impediram taxas mais elevadas aos eléctricos chineses à entrada da Europa, com medo que a China retaliasse contra as exportações da marca a partir da Alemanha, tendo igualmente assistido impávida, como os restantes construtores germânicos, à retirada dos incentivos aos automóveis eléctricos na Alemanha em final de 2023 (que contudo se mantiveram para os PHEV em que continuam a apostar por necessitarem de menores investimentos).

Além do lançamento de novos veículos eléctricos estar suspenso, a começar pelo Cayenne, a marca reforçou a aposta em modelos híbridos com motores principais a combustão. Isto significou reduzir as margens de lucro dos anteriores 5% a 7%, para apenas 2%. Mas as (más) perspectivas de vendas podem ainda vir a agravar-se, quando os potenciais clientes se aperceberem que a oferta de veículos com motor principal a combustão vai recorrer a chassis antigos. O ainda CEO da Porsche e do Grupo Volkswagen, Oliver Blume, espera alguma flexibilidade da União Europeia quanto ao futuro dos limites das emissões de CO2, mas tudo indica que se vai manter o limite da venda de motores a combustão em 2035.

As vendas globais da Porsche caíram 6% no primeiro semestre de 2025, com a China a tropeçar 28% e a Alemanha 23%, enquanto na Europa as transacções baixaram 8%. Nos EUA e porque os primeiros seis meses do ano decorreram em grande parte sem o agravamento das taxas, as vendas até cresceram 10%, provavelmente devido a antecipação de compras para beneficiar ainda dos preços mais baixos. Face aos (maus) resultados expectáveis da Porsche no final de 2025 e à consequente redução dos lucros, o Grupo Volkswagen espera já que o mau desempenho da Porsche implique um corte de 5,1 mil milhões nos seus resultados financeiros do ano.