A sueca Saab apresenta caça Gripen E como solução inovadora e económica, apostando em parcerias com a OGMA e Critical Software para impulsionar a defesa e a indústria de Portugal
Não são os aviões de quinta geração norte-americanos que a Força Aérea escolheu para substituir a sua frota de F-16, mas para o ministro da Defesa “o mundo mudou” e agora é preciso “pensar nas melhores opções”, incluindo opções “de produção europeia”. Esta mudança de posição foi suficiente para trazer a Saab a Portugal para assinar dois memorandos de entendimento com empresas nacionais e dar a conhecer as capacidades únicas de uma aeronave que acredita rivalizar com as melhores do mundo.
“A tecnologia furtiva está, na verdade, um pouco desatualizada. E é por isso que o sistema de guerra eletrónica é muito mais adaptável. Acreditamos que é mais importante ter flexibilidade e capacidade de adaptação”, afirma Daniel Boestad, vice-presidente do negócio Gripen da Saab, durante uma apresentação em Lisboa, desafiando a ideia de que o caça de geração 4.5 é inferior aos rivais de quinta geração, por não ter capacidade de permanecer em combate sem ser detetado. “Não falamos de gerações, mas de sistemas que evoluem constantemente”, acrescenta.
Em vez disso, a Saab aposta em sistemas avançados de guerra eletrónica (EW) que, ao criarem uma “bolha eletrónica de 360 graus” em torno da aeronave, permitem que o Gripen opere em ambientes de combate altamente disputados. Mas a ausência de tecnologia furtiva não significa que esteja completamente vulnerável. Os Gripen têm uma dimensão relativamente pequena e um design construído de forma a reduzir a assinatura de radar, para se tornarem mais difíceis de detetar. Ao mesmo tempo, a Saab equipa estes aviões com os avançados radares AESA, que garantem ao piloto uma “consciência situacional” bastante elevada.
O gigante de defesa sueco acredita que o Gripen tem algo que o torna ainda melhor para os novos desafios que o campo de batalha moderno: a sua enorme capacidade de adaptação e a velocidade de inovação. Graças à sua arquitetura de software, o Gripen permite a integração rápida de novas funcionalidades e sistemas, uma inovação que diferencia a aeronave de todas as outras plataformas atuais. Este design único separa o software tático do hardware de voo, permitindo que as atualizações sejam feitas rapidamente e a um custo reduzido. “Mais ninguém consegue fazer isto”, sugere o responsável.
“É um caça incrível que vai durar décadas e décadas, porque vai ser atualizado constantemente”, defende Boestad.
A Saab exemplificou esta capacidade com um feito impressionante: a integração de um agente de inteligência artificial no Gripen E em tempo recorde de apenas uma semana, algo que, segundo Boestad, “nenhuma outra plataforma consegue fazer”. Em pouco tempo, esta aeronave pilotada pela IA tornou-se extremamente difícil de derrotar em combate. Esta flexibilidade e velocidade de implementação de atualizações nos sistemas de defesa tem sido uma das principais características do campo de batalha na Ucrânia.
A Saab privilegiou também a facilidade de manutenção, o que permite a substituição de componentes num espaço de tempo relativamente curto. Além disso, o caça sueco é capaz de operar em ambientes hostis, sendo capaz de utilizar as vias de uma autoestrada como pista para aterrar e levantar voo.
Gripen em Portugal?
O avião mais moderno da Saab, o Gripen E, possui características que lhe permitem realizar missões de longo alcance em todo o território português, incluindo na vasta Zona Económica Exclusiva (ZEE). O caça é capaz de ser reabastecido em pleno voo, e Portugal prepara-se para adquirir os kits de reabastecimento para os aviões KC-390 da Embraer. Segundo a Saab, a combinação destas duas aeronaves – utilizadas tanto pela Suécia como pelo Brasil – são o exemplo de uma “parceria de sucesso”.
Ainda assim, a principal vantagem da escolha do Gripen E para a frota portuguesa é o seu custo. Apesar de a empresa não avançar com um valor para cada unidade, uma vez que esse valor pode depender do número de aeronaves adquiridas e de outros fatores, a Saab garante que o custo de operar este caça é apenas uma fração dos seus dois principais rivais, o F-35 e o Rafale.
“O importante não é o preço de cada unidade, mas sim o preço que toda a frota custará ao longo da sua vida, quanto custa para operar, cada hora de voo, etc.No que toca a custo operacional, nós somos de longe a opção mais barata. O nosso preço é um terço dos custo dos nossos rivais”, insiste o vice-presidente do negócio Gripen da Saab.
Mas os tempos estão a mudar e a política de defesa já não se faz só de escolher o melhor equipamento tendo em conta o orçamento em cima da mesa. O próprio ministro da Defesa tem defendido repetidas vezes que “a regra de ouro” da modernização das Forças Armadas terá sempre como pressuposto “o envolvimento das indústrias nacionais de defesa”, de forma a garantir a tão desejada “autonomia estratégica”. E esta parece ser a principal arma dos suecos para “seduzir” o governo português.
O fabricante sueco assinou dois memorandos de entendimento (MoU) com duas empresas portuguesas: a OGMA e a Critical Software. O representante da Saab acrescentou que estas parcerias não dependem da decisão de Portugal comprar o Gripen, sublinhando que são uma resposta natural para o aumento global da procura que a empresa tem vindo a sentir. “A OGMA e a Critical são excelentes parceiros independentemente do que aconteça”, garante.
Segundo a Saab, a empresa está a explorar a possibilidade de cooperar com a OGMA na área de produção, manutenção, reparação e revisão do Gripen. Já a Critical Software poderá fazer parte de vários projetos conjuntos na área do software ligado à aviação. “Vocês têm empresas muito fortes aqui”, afirmou Daniel Boestad, destacando o potencial da indústria portuguesa, como a OGMA e a Critical Software, para replicar benefícios semelhantes, integrando Portugal na cadeia de produção e manutenção do Gripen.
O sucesso do programa Gripen no Brasil é o principal exemplo do modelo de parceria da Saab. O acordo com o Brasil, que resultou na compra de 36 caças, foi o maior programa de transferência de tecnologia e industrial na história da Suécia. A cooperação industrial foi um fator decisivo na escolha do Gripen por parte do Brasil e que permitiu a criação de 13 mil empregos altamente qualificados. Os suecos acreditam que este modelo de sucesso pode ser replicado em Portugal, já que o país tem empresas “muito, muito boas”, capazes de se tornarem um parceiro importante na cadeia de fornecimento global do Gripen, mas sublinha que a decisão “cabe ao Governo português”.