A fatia de leão dos 2.400 trabalhadores da Hovione está em Portugal — 1.800 trabalhadores divididos entre a fábrica de Loures e o centro de investigação e desenvolvimento no Lumiar. A empresa é o maior empregador de doutorados do país. Na unidade dos EUA, recorre a alguns vistos H-1B, dedicados a trabalhos altamente especializados, que na semana passada foram alvo de alterações pela administração Trump. As próximas candidaturas, em abril de 2026, vão ter associadas uma taxa de 100 mil dólares. Questionado sobre se a Hovione será afetada pela mudança, o CEO diz que a empresa não “pretendia ser Nostradamus”. “Mas o que posso dizer é que já há três anos que nos distanciámos da ideia de enviar recursos humanos portugueses ou europeus para os EUA”.

“Dependemos de trabalho local. Parámos de fazê-lo [usar vistos] porque não fazia sentido ter uma unidade nos EUA a ser liderada por uma equipa europeia”, diz Herbaux, que estudou nos EUA e também em França, e que trabalhou também na Ásia durante oito anos. “Não funciona gerir um negócio com uma equipa estrangeira, quer culturalmente, quer na ligação com os clientes.”

Trump adiciona taxa de 100 mil dólares a vistos para trabalho qualificado. Tecnológicas pedem a trabalhadores que evitem sair dos EUA

Ainda em janeiro de 2019, a Hovione anunciou a construção de uma fábrica no Seixal, na margem sul do Tejo. Adquiriu um terreno na zona industrial com 40 hectares, dez vezes maior que as instalações de Loures. A criação da fábrica do Seixal, que deverá estar a funcionar comercialmente em 2027, tem sido um processo longo de um investimento de 200 milhões de euros.

Noutras ocasiões, o anterior CEO, Guy Villax, lamentou o tempo de licenciamento destas novas instalações. Anos depois, o novo CEO já traça um cenário mais otimista. “Está a progredir bastante bem, na verdade a acelerar. Estivemos maioritariamente a trabalhar na infraestrutura, nas estradas, nas utilities”, explica sobre os trabalhos na zona industrial de um campus batizado de Hovione Tejo.

Jean-Luc Herbeaux detalha que o tempo de desenvolvimento de medicamentos encurtou e que, assim, os clientes precisam de mais espaço. “Antes eram precisos dez a 12 anos para desenvolver um medicamento e lançá-lo no mercado. Agora são cinco a seis, é metade.” Assim, a Hovione já regista “interesse dos clientes em espaço e na capacidade” de produção prometida pelas novas instalações. Não abre o jogo sobre de quem parte esse interesse. “A nossa base de clientes evoluiu com o tempo, mas é dos mesmos cem clientes que tipicamente temos.”

“Vamos instalar o equipamento e a tecnologia mais recente de engenharia de partículas no Seixal”, acrescenta. Herbaux descreve o trabalho com as partículas para os medicamentos como “uma tecnologia especial”.

“Quando se olha para um medicamento, vemos um nome muito longo, é o químico que está ativo, que atua no corpo, cura alguma coisa. Mas só as moléculas não são suficientes, é precisa uma formulação: é preciso que seja entregue no sítio certo [do corpo] e na altura certa. É o que nós fazemos e trabalhamos com ativos que são muito difíceis de solubilizar em água.” Lembra que o corpo humano é composto maioritariamente por água. “Se não é possível dissolver em água não resulta. Nós fazemos fármacos que são solúveis, trabalhamos em sistemas de polímeros, sistemas complexos. É essa a tecnologia que vamos ter no Seixal”, onde também serão desenvolvidos trabalhos na área da “forma final de dosagem, dos comprimidos e no enchimento de cápsulas”.

Além de um tempo de chegada ao mercado mais reduzido, o CEO da Hovione também vê espaço para outra aplicação da tecnologia à indústria. “A inteligência artificial está a ajudar muito com o design da molécula. Com o design clínico, também, na forma como a molécula é testada nos pacientes e a reduzir os efeitos secundários.”