Donna Rhorer

Anthony TJ Hoover (dir) com a irmã e cuidadora, Donna Rhorer

A sua morte cerebral tinha sido declarada. Uma hora depois de os médicos terem dado início ao procedimento de colheita de órgãos, começou a agitar-se violentamente, e  acordou — com lágrimas nos olhos.

Em outubro de 2021, Anthony Hoover II, de 36 anos, foi transportado de urgência para o Baptist Health Richmond, no Kentucky, após uma overdose de droga.

Entrou em paragem cardíaca e os médicos não detetaram quaisquer reflexos nem atividade cerebral.

Declararam-no em morte cerebral.

Os médicos seguiram então os procedimentos padrão após a morte de um paciente: notificaram a família de Hoover e prepararam-no ,como dador de órgãos, para uma intervenção de colheita de órgãos para transplante.

Mas cerca de uma hora após o início do procedimento, os cirurgiões pararam abruptamente, conta a Popular Mechanics. De acordo com uma denúncia recebida pelo Congresso norte-americano, Hoover começou a “agitar-se violentamente” na mesa de operações várias vezes.

Numa entrevista à NPR em 2024, uma especialista em preservação de órgãos presente na sala de operações afirmou que Hoover lhe parecia estar vivo, e dois médicos recusaram prosseguir com o procedimento. A especialista chegou mesmo a dizer que Hoover aparentava ter lágrimas nos olhos.

Hoover sofreu complicações graves e de longa duração na memória, mobilidade e fala devido à overdose, mas acabou por sobreviver. Posteriormente, foi entregue aos cuidados da irmã depois do cancelamento da extração de órgãos.

No entanto, até hoje, como é que Hoover passou de “morto” a vivo continua a ser um mistério, que os médicos não conseguem explicar.

A história surpreendente de Hoover não é o único caso de alguém aparentemente “a acordar” da morte, e que desafia o que sabemos sobre os momentos finais da consciência.

Há inúmeros relatos de pessoas que acordam em morgues e caixões, ou mesmo durante a sua autópsia, enquanto outras descrevem ter visto luzes brilhantes ou ouvido vozes de familiares falecidos durante a morte.

Estes são fenómenos inquietantes que colocam em causa a ideia de que a morte acontece tão imediatamente como se pensava.

Estudos recentes questionam a ideia de que a morte seja algo que acontece tão rapidamente como apagar uma luz. Investigadores registaram rajadas súbitas de ondas gama, ou surtos de atividade cerebral de alta frequência associada à memória, em pacientes, mesmo depois de terem morrido.

Estas experiências de quase-morte (EQM) poderão assim representar as últimas tentativas do cérebro de se manter vivo, e alterar o que sabemos sobre a função da consciência após a morte.

Ainda assim, permanecem muitas questões por responder sobre a morte e a consciência. Estariam realmente mortos os que passaram por EQM? Porque é que o cérebro regista uma súbita atividade enquanto morre? E de que forma devem as EQM influenciar protocolos em práticas como a doação de órgãos?

Perguntas ainda sem resposta, que são na verdade os mistérios da vida.


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