Lula e Trump: reuniões secretas antes do encontro na ONU

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Casa Branca mandou emissário ao Brasil para conversar com ministro Mauro Vieira; Alckmin conversou com autoridade de Comércio no dia da condenação de Bolsonaro. Crédito: Felipe Frazão/Estadão | Edição: João Abel/Estadão

A disposição de Donald Trump de se reunir com Lula segue um padrão de comportamento adotado pelo presidente americano desde o seu primeiro mandato, calcado por seu desejo de manter a iniciativa. Além disso, pesa o interesse de resolver a questão das tarifas de forma favorável para os EUA.

A hostilidade de Trump em relação ao Brasil de Lula atingiu um ponto de esgotamento. O governo brasileiro deixou claro que não pode atender às exigências de Trump de reverter decisões da Justiça em relação ao ex-presidente Jair Bolsonaro e às redes sociais. Não pode e nem quer, já que a resistência à pressão americana impulsionou a popularidade de Lula.

As tarifas e sanções dos EUA se tornaram um incentivo interno e uma justificativa externa para o governo Lula fazer o que o seu instinto ideológico já o impulsiona naturalmente a fazer: estreitar a parceria com a China.

O presidente dos EUA, Donald Trump, assiste ao discurso do Presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, na Assembleia-Geral da ONU, em 23 de setembro: encontro ‘fortuito’ nos bastidores para tentar reaproximar Brasil e EUA  Foto: Mark Garten / ONU

Diante disso, as pressões americanas atingiram um ponto em que se tornaram inócuas e contraproducentes. Ao se oferecer finalmente a negociar, Trump retomou a iniciativa, voltando a ocupar o lugar de quem pode oferecer a solução.

A que custo, no entanto? Trump certamente não abandonou a estratégia de usar o Brasil para provar que ele é o líder do mundo livre, enquanto a esquerda é autoritária e repressiva, e usa a Justiça para fins políticos contra a direita. Em um eventual encontro na Casa Branca, diante das câmeras, o risco de o presidente americano impor a Lula um constrangimento é considerável. Daí a preferência de setores do governo de realizar a reunião em um terceiro país.

Esse aspecto político continua sendo o mais incontornável. Mas as tarifas têm uma dimensão comercial. A revelação do Estadão de que o vice-presidente Geraldo Alckmin, ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, conversou no dia 11 por videoconferência com Jamieson Greer, representante comercial dos Estados Unidos, e o chanceler Mauro Vieira recebeu no Brasil, no dia 15, Richard Grenell, enviado de Trump para missões especiais, reforça a noção de que o governo americano tem interesse em negociar um acordo.

Importadores e varejistas americanos pressionam a Casa Branca para que baixe as tarifas, cujo propósito é arrecadar impostos, equilibrar a balança comercial, atrair indústrias de volta e impor a vontade dos EUA sobre outros países – não causar escassez e elevação de preços.

O andamento das negociações dá ao Brasil a chance de reduzir suas tarifas, que prejudicam os consumidores, o acesso dos setores produtivos a tecnologias que impulsionam a inovação e a inserção de segmentos da indústria nas cadeias de valor.