NOVA YORK (AP) — Taylor Heine, 35, costuma fazer várias coisas ao mesmo tempo quando assiste a séries de TV ou filmes em casa. “Estou jogando no telefone, fazendo carinho nos meus animais e talvez limpando, arrumando a casa”, diz.

Então ela assiste com as legendas ativadas. “Assim posso alternar entre os dois: ouvir ou olhar para a tela e saber o que está acontecendo”, afirma. Desta forma, Heine consegue acompanhar o que está acontecendo mesmo se perder algum trecho do diálogo.

E isso também beneficia o noivo dela.”Quando ele está cozinhando ou fazendo barulho na cozinha, eu não preciso ligar a TV no volume máximo”, comenta.

O uso de legendas pode ser um gosto adquirido. Algumas pessoas as consideram distrativas, e familiares que moram na mesma casa podem discordar e brigar pelo controle remoto.

Porém, Heine, que mora em Johnson City, Tennessee, tem bastante companhia. De acordo com uma nova pesquisa do The Associated Press-NORC Center for Public Affairs Research, pessoas com menos de 45 anos são mais propensas a usar legendas do que adultos mais velhos.

A pesquisa descobriu que cerca de quatro a cada 10 adultos com menos de 45 anos usam legendas pelo menos frequentemente ao assistir TV ou filmes, em comparação com cerca de três a cada 10 adultos com mais de 45 anos.

Aqueles com 60 anos ou mais são especialmente propensos a dizer que “nunca” usam legendas.

A pesquisa sugere que muitos jovens adultos usam legendas porque assistem em ambientes barulhentos, enquanto adultos mais velhos optam pelo filme legendado para entender melhor o que está sendo dito.

Isso faz sentido para David Barber, editor de som e mixador, presidente da Motion Picture Sound Editors. “Parte disso é cultural”, analisa.

“Os mais novos fazem várias coisas ao mesmo tempo. Eles ouvem música enquanto assistem a um programa. Então, estão captando pedaços disso, pedaços daquilo. Acho que eles estão meio ouvindo e meio assistindo. É um fenômeno interessante.”

As legendas ajudam a captar cada palavra

Muitas pessoas, independentemente da idade, usam legendas simplesmente para captar melhor o diálogo.

Entre os usuários de legendas, 55% afirmam utilizá-las porque querem captar cada palavra. Cerca de quatro em cada 10 dizem que o fazem por dificuldade em entender sotaques ou porque estão assistindo a um filme ou programa estrangeiro.

Ariaunna Davis, 21, diz que normalmente usa legendas quando está em um ambiente onde não consegue ouvir o áudio e não quer aumentar o volume ou quando não consegue entender o sotaque de um personagem.

“O momento que uso mais legendas é quando quero saber a maioria das palavras que estão sendo ditas e o áudio está um pouco duvidoso”, diz.

Já Adrian Alaniz, 31 anos, de Midland, Texas, acredita que sua audição foi ligeiramente prejudicada pelos shows que frequentava quando era mais jovem. Com as legendas, ele tem certeza de que está entendendo o que está acontecendo, principalmente se estiver comendo algo crocante, como um pacote de batatas fritas.

Nos desenhos animados que Alaniz assiste as legendas são particularmente úteis para a tradução. Houve momentos, diz ele, em que o áudio dublado e as legendas não combinavam. “Às vezes o áudio não fica tão claro e as legendas ajudam”.

Áudio ruim ou ruído de fundo?

A pesquisa descobriu que cerca de três em cada 10 adultos nos Estados Unidos usam legendas porque assistem em um ambiente barulhento, enquanto cerca de um quarto deles afirma que faz isso por causa da má qualidade do áudio.

Barber afirma que há muitos motivos pelos quais o diálogo pode ser difícil de ouvir, incluindo distrações sonoras em ambientes domésticos. Ele também observa que os alto-falantes geralmente ficam na parte traseira de uma TV de tela plana e projetam em direção à parede.

“Então, para começar, você não está ouvindo em um sistema de som de primeira linha”, diz ele.

Outro fator é baseado no estilo de atuação. Os atores têm um estilo de expressão emocional “mais interno e próximo” do que tinham décadas atrás, diz a designer de som Karol Urban. Às vezes, isso dificulta discernir o diálogo.

E agora há simplesmente muito mais som competindo com o diálogo, comenta Urban. “Antigamente, havia muito menos efeitos sonoros, menos ondas musicais”, observa.

“Quando você adiciona mais coisas sob o diálogo, você está adicionando mais frequências e coisas que podem interferir no entendimento do diálogo.”

Davis, de Tampa, na Flórida, cita a série Game of Thrones como um exemplo em que ela ativa as legendas para não precisar ficar ajustando o volume constantemente.

“Muitas vezes, a fala na série é baixa e combina com o ambiente sombrio de uma determinada cena”, diz ela. “Aí, na próxima cena, só tem música, e o som atravessa as paredes.”

Diferença geracional na multitarefa

Cerca de um quarto dos usuários de legendas afirmam que ativam as legendas porque estão assistindo enquanto realizam várias outras tarefas ao mesmo tempo.

O número é maior do que aqueles que afirmam que o motivo da legenda é deficiência auditiva, tentar aprender um novo idioma ou assistir sem som.

Porém, se a pergunta for direcionada a um adulto mais jovem ou mais velho, você poderá obter uma justificativa bem diferente.

Jovens adultos (com menos de 45 anos) são mais propensos a dizer que usam legenda porque estão assistindo em um ambiente barulhento ou assistem vários programas ao mesmo tempo do que aqueles com 45 anos ou mais que usam legendas.

Usuários mais velhos são mais propensos do que adultos mais jovens a dizer que usam legendas porque têm dificuldade em entender sotaques ou por causa de uma deficiência auditiva.

Cerca de três em cada 10 adultos com 60 anos ou mais usam legendas por causa de deficiência auditiva, contra apenas 7% entre os adultos mais jovens.

Patricia Gill, 67, de Columbus, Tennessee, não usa legendas. Porém, quando seu neto vem visitá-la, percebe que ele ativa as legendas no celular enquanto assistem filmes. “Ele é um típico pré-adolescente, que só gosta de ficar olhando para o celular”, ela diz.

As duas gerações têm abordagens diferentes quando se trata de legendas. Se Gill está interessada em um filme e perde uma fala importante, ela volta e a rebobina. “Sou da velha guarda”, diz ela. “Gosto das coisas comuns, básicas.”