Carlos Tavares dissecou a atualidade geopolítica, avisando que a “nova ordem mundial” está a provocar o acelerar da China rumo à “futura dominação” global. Sobre este “jardim à beira mar plantado”, é preciso ser tratado “todos os dias”.

Os EUA deixaram de ser um parceiro de confiança para Portugal, disse Carlos Tavares. “Portugal já não pode contar com este parceiro que demonstra não ser confiável e que se tornou numa entidade, apesar de poderosa, meramente transacional”, segundo o ex-CEO da Stellantis.

Por um lado, é um “ponto positivo, pois obriga-nos a pensar por nós mesmos no que pode ser o nosso futuro sem este aliado, cujo papel na NATO tem sido de desenvolver as exportações de armamento americano para a Europa”.

Os EUA já são o “mais poderoso e mais rico” país do mundo e quer “ainda mais poder e mais riqueza”, o que está a provocar um afastamento de vários países dos EUA para entrarem na esfera de influência da China.

A análise foi feita hoje pelo gestor Carlos Tavares que considera que está a ser criada uma “nova ordem mundial” com Donald Trump na Casa Branca, disse no seu discurso de encerramento da conferência do 9º aniversário do Jornal Económico que decorreu na AESE em Lisboa.

“Esta pulsão egocêntrica resultante da reação aos excessos do wokismo só pode acontecer a prejuízo do resto do mundo, visto o fraquíssimo crescimento da riqueza mundial que medimos pela evolução do PIB”, sublinhou.

Esta postura norte-americana está a provocar o “resto do mundo a alinhar-se naturalmente com a China, que acelera assim a sua viagem para a sua futura dominação deste planeta”.

Resultado: “A política americana atual tem como consequência o exato oposto do objetivo estratégico maior dos Estados Unidos que é de impedir que a china venha a ser um dia o número 1”.

“A China dá-nos agora lições no que diz respeito à aplicação das regras do comércio internacional como se tivessem sido os fundados da Organização Mundial do Comércio, e adota atitudes políticas maduras e sábias para criar contraste com as reações emocionais e populistas do ocidente”, destacou.

Olhando para o desequilíbrio comercial invocado pelos EUA, considera que este tem “mais a ver com a fraca produtividade e pior qualidade da indústria de fabricação de bens físicos”.

Sobre a União Europeia, considera que existe um “atraso da visão política em relação à dimensão económica e monetária onde a ausência de destino político comum para a União Europeia está gravemente a penalizar o bloco e, sobretudo a alimentar as rivalidades internas nomeadamente entre a França, a Alemanha e a Itália. A guerra existente nos bastidores desqualifica esses estados para serem o farol da UE”.

O gestor também deixou críticas ao Acordo de Paris para o clima considerando que “foi um bom exemplo de declínio” do mundo ocidental. Na COP 21, o “mundo ocidental, ao ficar rico destruindo o planeta, tentou exigir do sul global que travasse o seu próprio desenvolvimento para não agravar a situação do planeta”.

“Para além da comunicação manipulada de que fomos vítimas foi um estrondoso desastre como está à vista hoje com um tópico de aquecimento global já pouco discutido na arena política”, afirmou.

“O mundo ocidental tem de por um termo ao seu declínio aceitando a ideia de que a preguiça como modo de vida e a burocracia cancerosa não constituem um futuro apetecível e sobretudo competitivo num mundo de PIB estagnante”, destacou.

Sobre as instituições europeias, considera que existe em Bruxelas “dois pesos e duas medidas no tratamento do não respeito das regras comunitárias sem esquecer o fraco desempenho da trilogia Conselho-Comissão-Parlamento na tomada de decisões estruturantes como, por exemplo, a descarbonização dos transportes”.

“Esta situação cria um vácuo de liderança política propícia à expressão de particularismo nacionalistas como os da Hungria. Existe portanto uma urgência em definir o destino da Europa em termos de modo de governação mais integrado para criar mais riqueza e bem estar para as nossas populações”, conclui Carlos Tavares.