Partido propôs proibir o patrocínio de eventos por entidades que explorem jogos e apostas, tal como no futebol. Mas a ideia é perversa, porque desvia milhões para as tecnológicas americanas, alerta ex-dirigente desportivo.

Livre avançou com sete projetos de lei, que foram discutidos na sexta-feira no Parlamento, que visam apertar a malha aos jogos e apostas online. Além de querer o fim da venda de raspadinhas em instituições de saúde, e de outras limitações, o partido de Rui Tavares quer proibir o patrocínio de eventos e competições por entidades que explorem jogos e apostas, como acontece em eventos desportivos, nomeadamente no futebol.

Mas a ideia é perversa, diz ao Jornal Económico (JE) Rui Pedro Soares, antigo presidente da Belenenses SAD. “Se o desporto for impedido de receber patrocínios de casas de apostas devido a esta iniciativa legislativa do Livre, os afetados vão ser os jovens atletas das modalidades que não o futebol. As beneficiadas serão as grandes tecnológicas americanas da publicidade online, para onde estas dezenas de milhões de euros anuais vão ser desviadas”, analisa o também antigo administrador da PT.

Rui Pedro Soares sugere que a proposta em causa resulte de “desconhecimento” ou por “subserviência ao capitalismo global”. O antigo dirigente desportivo vai mais longe nas críticas ao partido, afirmando que se o “Livre estivesse realmente preocupado com os portugueses com adição de apostas, centrava a sua atenção em relação ao jogo da Raspadinha que movimenta 1.8 mil milhões de euros, na sua esmagadora maioria saídos do bolso de pobres reformados”.

A proposta do Livre foi anunciada e explicada em conferência de imprensa, na Assembleia da República, na última terça-feira. “Não é o futebol que precisa do jogo ‘online’, é o jogo online que precisa do futebol. Está a parasitar o futebol”, criticou o porta-voz Rui Tavares. No projeto é proposto um regime transitório, entre 2026 e 2028, para que os contratos atuais de patrocínio terminem e possam ser substituídos gradualmente.

Os projetos em causa têm como objetivo combater o “vício” e a “dependência” associada ao mundo dos jogos e apostas. No caso das raspadinhas, o Livre pretende proibir a sua venda nos estabelecimentos de saúde, local onde as pessoas estão “numa situação mais vulnerável”.

O partido propõe ainda alterar o Código da Publicidade, impondo limitações, nomeadamente para que “não seja dirigida a grupos vulneráveis ou de risco”, que não tenha “um elogio e uma glorificação do jogo em si, ou uma promessa de um ganho fácil” ou “um desprezo por quem não joga e por quem não participa neste tipo de atividades”.

O Livre sublinha que o mercado de jogos e apostas online “tem experienciado um crescimento exponencial que se reflete no aumento das receitas (323 milhões de euros brutos o ano passado), e na multiplicação dos riscos associados ao jogo.