A atriz Ana Beatriz Nogueira lembrou os surtos que teve em cena durante a novela ‘Caminho da Índias’, que mercou o período inicial da esclerose múltipla, doença com que convive há 16 anos. Em entrevista à jornalista Maria Fortuna, no videocast ‘Conversa vai, conversa vem‘, no ar no YouTube do GLOBO e no Spotify, a atriz contou que as amigas Malu Mader, Patrícia Pillar e Zélia Duncan aprenderam a aplicar injeções para tratá-la e revelou ainda que treinava enfiando agulhas em laranjas. Leia trecho da conversa:
Teve os primeiro surtos em cena em ‘Caminho das índias’, né? Como foi?
Comecei a ver tudo embaçado, depois todo mundo duplo. Tinha uma cena que precisava levar champanhe para para a Vera (Fischer) e perguntava ao (Antonio) Calloni: “Qual das Veras, a da direita ou da esquerda?”. E ele me dizia, a gente fez uma parceria total ali. Eu não sabia o que era. Quando a novela acabou tive uma coisa que é quando essa bolinha preta do olho entra e fica só o branco. Não enxergava nada. Tinha feito o exame do licor, que dera positivo mas diziam que era falso positivo porque eu não apresentava nada além daquilo. No terceira vez que aí eu não estava enxergando nada deu o terceiro positivo para EM. Aí os médicos e convenceram e fomos cuidar.
É verdade que amigas como Malu Mader, Patrícia Pilar e Zélia Duncan aprenderam a aplicar injeções em você?
Denise Bandeira também. A moça do governo explicava e vinha com os remédios injetáveis. E a gente testava na laranja. Porque eu ia ter que dar em mim, não podia ficar dependendo dos outros para dar. Fui treinando com todo mundo, e esse momento da laranja acabou sendo divertido. Com o tempo, aplicava falando no telefone, lia um livro, decorando texto. Mas, no início, estava assustada, e isso é incrível. Você pode estar com medo, com vontade de chorar, mas, de repente, acontece uma coisa engraçada e você dá uma gargalhada. Ou pensa, ‘ah o sofrimento’. Não consigo me levar a sério o tempo todo.
É impressionante como a gente se adapta. Tenho medo de ficar fechada na ressonância. Nada como ter que ficar. Já até dormi lá dentro… Sofri muito. Dizia: ‘quanto tempo eu tenho?. Bom, passaram 16 anos. Não tenho o que chamam de progressão significativa, tenho uma progressão. É uma doença degenerativa. Mas a vida é degenerativa, estamos todos degenerando. Só que eu tenho mais consciência. E acompanho a minha degeneração. Eu sigo o cortejo, não pergunto quem morreu. Faço o que o médico mandou e não pergunto porque.