A Montanha
José Luís Peixoto
(Quetzal)

De regresso ao romance após Almoço de Domingo, José Luís Peixoto volta a beber inspiração a uma experiência real — desta vez, conviver com pacientes oncológicos do IPO do Porto — para enfabular a sua história. No pouco que ainda se sabe sobre esta narrativa do prémio Saramago, surgem personagens de várias proveniências e contextos — da Venezuela a Ponte de Lima — que têm de enfrentar a ameaça de morte de frente e fazer da sua vulnerabilidade força.

Encruzilhada de Corvos
Andrzej Sapkowski
(Saída de Emergência)

É possível que já tenha visto esta figura em algum lado — semblante carregado, cabelo branco, de físico imponente e com duas espadas às costas. Trata-se de Geralt de Rivia, personagem principal de The Witcher, uma das mais bem sucedidas e celebradas sagas modernas de fantasia — tanto a nível literário como nas suas adaptações para videojogo e série televisiva —, distinta pelo seu cariz sombrio e a inspiração do folclore eslavo. O seu autor, o polaco Andrzej Sapkowski, regressa a este universo 11 anos depois com uma prequela, onde Geralt começa a dar os primeiros passos como um bruxo caçador de monstros e a tentar encontrar o seu lugar no mundo.

As Várias Vidas de Anne Frank
Ruth Franklin
(Casa das Letras)

Depois de dedicar-se à tarefa monumental (mas bem sucedida) de biografar a escritora Shirley Jackson, Ruth Franklin quis escalar uma montanha ainda maior: Anne Frank. A sua figura, e o seu diário, são tão omnipresentes e icónicos na nossa cultura que acabam por obscurecer quem foi a adolescente judia por trás, com as mitificações a prejudicar a tarefa de tentar representar uma pessoa de carne e osso. Neste trabalho, a crítica literária e jornalista explora não só quem foi Frank, mas tenta compreender como foi a sua vida em reclusão a escrever o diário e como a sua imagem tem sido instrumentalizada politicamente desde então.

Ramonera
Elvis Guerra
(Orfeu Negro)

Elvis Guerra não se identifica nem como homem nem como mulher, mas como muxe, um terceiro género assente no não-binarismo há muito reconhecido na sociedade indígena zapoteca, no México — o que, de resto, também prova que ideias de não-conformidade de género existem desde sempre e não são, como às vezes se quer fazer parecer, um conceito moderno. É a partir dessa lente que Guerra escreve os poemas de Ramonera, refletindo de dentro para fora da sua comunidade a dissidência de género e a etnicidade e fazendo uma crítica quanto à exclusão e a violência exercidas sobre corpos como seu. Esta edição não só é bilíngue, mantendo o texto original zapoteca, como conta com um posfácio do poeta e artista plástico André Tecedeiro.

O Desfufador — Volume 1: Contágio
Valério Romão
(Tinta da China)

Há sete anos arredado do romance — pelo meio manteve-se particularmente ocupado com o trabalho de tradução — o poeta e escritor Valério Romão mudou de casa literária e, com isso, começou a edificar um projeto de vários volumes narrativos. Este primeiro, descrito como uma “sátira impiedosa sobre masculinidade, turistificação, teorias da conspiração, clima, tecnologia, o mundo académico e mais algumas coisas difíceis de listar”, acompanha Alejandro, homem nascido em Miami que dá por si a ir parar a Lisboa num cruzeiro após um evento apocalíptico onde todos os sistemas eletrónicos do mundo se desligaram durante meia hora. É na capital lisboeta onde encontra uma galeria de personagens tão excêntrica quanto a premissa desta história.

Na Casa dos Sonhos
Carmen Maria Machado
(Alfaguara)

Depois da pedrada no charco que foi o livro de contos O Corpo Dela e Outras Partes, a escritora norte-americana Carmen Maria Machado voltou a abanar as águas com este livro de memórias. Mantendo a metáfora do corpo como um espaço de mudança e combate, aqui torna-se numa casa assombrada onde os fantasmas são os da violência doméstica — não tanto da física, mas da psicológica e de como esta se manifesta no corpo e transforma as vítimas. Recebido com pompa e circunstância pela imprensa norte-americana, este livro não só propõe um relato dilacerante do amor tóxico, como fá-lo de forma invulgar recorrendo à segunda pessoa do singular para tratar-se a si mesma, a vítima, por “tu”.

O Círculo dos Dias
Ken Follett
(Editorial Presença)

Tendo vindo a tornar-se um dos mais prolíficos (e populares) autores contemporâneos desde que começou a publicar nos anos 70, é difícil apontar períodos históricos que não tenham sido abordados por Ken Follett. Neste romance, porém, o escritor vai muito além da Inglaterra medieval que o afamou em Os Pilares da Terra, indo até aos primórdios da humanidade, ao Neolítico, centrando a trama na construção do tão antigo quanto misterioso Stonehenge e numa história de amor que tenta sobreviver a um período de convulsão e desconfiança motivado pela seca e a fome.

Rei das Cinzas
S.A. Cosby
(Kathartika)

Esta é a história de Roman Carruthers, um consultor financeiro afastado da sua família e do seu negócio de cremações até que recebe um telefonema para regressar porque o seu pai foi atropelado e está em coma. Ao chegar, descobre que não só a irmã Neveah está nos arames a tentar manter a família única como têm criminosos perigosos à perna devido à imprudência do seu irmão Dante — e que o que aconteceu ao pai pode não ter sido acidente. Se esta lhe parece a sinopse de um thriller, é porque é. O seu autor, S.A. Cosby, têm-se assumido como uma das figuras do policial de pendor mais literário, tendo tanto sucesso comercial quanto boa crítica por aliar enredos propulsivos à exploração das causas do crime contemporâneo e à criação de personagens realistas e ambíguas.