Neste momento, a maior empresa mundial do setor é norte-americana, a Morning Star. Há também grandes players na China, mas segundo o CEO da Sugal, os dados sobre essas empresas têm de ser vistos com cautela, porque “há muito pouca informação real” sobre elas.
“Nos últimos dois anos as empresas chinesas produziram muitíssimo, duplicaram a produção, e essa é uma das razões dos altos níveis de stock mundial”, explica. Há uma empresa chinesa que costuma estar no top 3 de produtores mundiais e, no ano passado, ultrapassou a Sugal no segundo lugar. “Por estratégia nossa de não querer investir em campanhas tão grandes”. Mas o grupo português, que tem cerca de 5% da produção mundial, continua a ser a segunda maior do globo no que toca à capacidade de produção.
No total, as cinco fábricas da Sugal têm capacidade para processar cerca de 30 mil toneladas de tomate. A fábrica da Azambuja, onde João Ortigão Costa recebe o Observador, até é das mais pequenas, com capacidade para quatro mil toneladas por dia, metade das que podem ser processadas em Benavente.
Das quatro linhas de enchimento da Azambuja, saem bidons e contentores que podem levar até 1600 litros de concentrado de tomate, ou seja, tomate ao qual foi retirada a água e que passou por um processo de esterilização, e que de outra forma não poderia ser exportado em tanta quantidade para países longínquos como o Japão. Este é, de resto, um dos países mais “especiais” para onde a Sugal exporta.
“O Japão é, sem dúvida, o mercado mundial mais exigente em termos de qualidade”, revela Ortigão Costa. “E posso dizer que temos a honra de ser marca líder no Japão. Somos o principal fornecedor de concentrado de tomate do Japão”, adianta. Para o mercado nipónico, segue produto proveniente de Portugal, Espanha e Chile.
Além da comida italiana ser muito apreciada no Japão, o país adotou, há cerca de uma década, o hábito de consumir sumo de tomate. “Transformaram o sumo de tomate numa bebida jovem. Eles são obcecados pela saúde e pelas coisas saudáveis e o tomate, de facto, é dos dos produtos mais saudáveis que temos”.
O concentrado que segue para o Japão tem um equilíbrio entre acidez e doçura. “Tem de ter um pH específico” e um nível de licopeno, um antioxidante, “muito alto”. É o único mercado da Sugal que o exige. Os bidons que seguem para o Japão também têm uma diferença em relação aos restantes: a data de validade do concentrado de tomate é de dois anos, enquanto os restantes são válidos por três. Na Azambuja, são milhares os bidons prontos para seguir para o outro lado do mundo. Demoram cerca de um mês e meio a fazer a travessia. Dentro de três meses, mais ou menos, já será possível “comprar e provar sumo de tomate premium” diretamente das vending machines, conta ao Observador o diretor de operações (COO) da Sugal, Miguel Cruz.
Da fábrica da Azambuja, também saem milhares de litros de ‘pizzasauce au Portugal’ (molho de pizza de Portugal), em latas de três e cinco quilos, para países do centro e norte da Europa. Cerca de 95% da produção da Sugal em Portugal é exportada.
Contratar mão de obra é “dificuldade”
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No pico da campanha, a Sugal chega a ter dois mil trabalhadores em todo o grupo. Em Portugal são cerca de mil. João Ortigão Costa admite que há “dificuldade” em contratar mão de obra em agosto e setembro.
“Aqui na fábrica de Azambuja continuamos com uma grande comunidade de estudantes a fazer a campanha”, mas a partir do momento em que começam as aulas há muitos que vão embora.
Apesar de as operações estarem “muito automatizadas”, é preciso “recorrer muito à mão de obra estrangeira”, ainda que mecanismos como a chamada Via Verde da imigração não sejam úteis à Sugal porque a mão de obra é temporária.
Para os EUA, as vendas a partir de Portugal são residuais. Mas nem por isso as tarifas impostas pela administração Trump deixam de ser uma preocupação para João Ortigão Costa. “Estávamos muito bem com as tarifas porque tínhamos reciprocidade, que é aquilo que o Presidente Trump tanto apregoa e com o que concordo plenamente. Mas a União Europeia negociou um contrato que não tem reciprocidade para o nosso setor”, detalha.
Até agora, as exportações de e para os EUA batiam numa taxa alfandegária que rondava os 14%. Depois da negociação recente, “os Estados Unidos, em termos de produtos terminados de valor acrescentado, ficaram sem taxas para entrar na Europa, e nós, para exportarmos para os EUA, mantivemos os nossos impostos”. Nas contas de Ortigão Costa, no último ano e meio, “com a desvalorização da moeda e a queda dos impostos para exportar para a União Europeia, os EUA ganharam quase 30% em competitividade”. Ao que acresce a energia “muitíssimo mais barata, tanto elétrica como o gás natural” e sem o Sistema de Comércio de Licenças de Emissão da União (CELE) da UE. “Torna-se numa origem muito competitiva para a Europa e que é completamente injusta”, defende.
Este desequilíbrio pode fazer com que os EUA “inundem” a Europa de concentrado de tomate ‘made in USA’. E não só. Segundo Ortigão Costa, é preciso ter em conta também a China, que nos últimos três anos triplicou as exportações deste produto para a Europa. “Porque tem a energia muito mais barata, não tem um quarto das nossas obrigações e dos nossos custos ambientais. E os impostos de exportação da China para a Europa não refletem as ajudas que têm dos governos locais”. Além de que, com as tarifas também impostas dos EUA à China, o incentivo para exportar para a Europa seja maior.