A corrida eleitoral à Câmara do Porto parece estar a representar um desafio maior para o PSD. Pedro Duarte, a grande aposta de Luís Montenegro nestas autárquicas, continua a ter dificuldades em superar Manuel Pizarro nas sondagens — ainda esta semana sairá um novo estudo de opinião a dar o socialista como favorito nas próximas autárquicas. Uma vitória do PS na cidade do Porto seria inevitavelmente um golpe duro para o partido, que tinha nesta corrida a oportunidade de recuperar a segunda cidade mais importante do país, e um balão de oxigénio para o centro-esquerda que não controla a autarquia há mais de 20 anos.

Apesar de tudo, no PSD, ninguém deita a toalha ao chão. Na semana passada, Luís Montenegro esteve no Porto, ao lado de Pedro Duarte, para sinalizar o empenho pessoal do primeiro-ministro nesta eleição. Os sociais-democratas agarram-se, sobretudo, a três grandes esperanças: o facto de existir comprovadamente uma maioria sociológica de direita na cidade (aos 12 anos de Rui Rio, seguiram-se 12 anos de Rui Moreira); ao facto de as sondagens falharem historicamente na cidade do Porto; e ainda à ideia de que existe uma dinâmica nacional que tem favorecido a marca “AD” e penalizado a marca “PS”, o que acabará por ajudar Pedro Duarte no dia das eleições.

Braga é outro caso complexo e com contornos semelhantes. O atual presidente, o social-democrata Ricardo Rio, controlava a Câmara há 12 anos, não ficou feliz com a escolha de João Rodrigues como candidato do PSD à sua sucessão — uma escolha diretamente influenciada por Hugo Soares, secretário-geral do partido, braço direito de Luís Montenegro e natural do concelho. João Rodrigues, vereador e agora candidato ficou associado à polémica Spinumviva, por ser filho do maior cliente da Spinumviva.

Para vencer as próximas autárquicas, João Rodrigues e o PSD têm de superar o socialista António Braga, um histórico da política bracarense e ex-presidente da Câmara, com a agravante de que existe uma forte concorrência à direita: Ricardo Silva, atual presidente da maior Junta de Freguesia do concelho, Santa Maria Maior; Rui Rocha, até há bem pouco tempo líder da Iniciativa Liberal; e Filipe Aguiar, atual presidente da concelhia do Chega/Braga e vice-presidente da distrital do partido.

Mas Braga é precisamente um dos laboratórios mais seguidos pelo PSD: nas últimas legislativas, e mesmo tendo ficado em terceiro lugar, o Chega foi de longe o partido que mais cresceu face às anteriores eleições. E fê-lo sobretudo à custa dos socialistas, que perderam quase seis mil votos em menos de um ano. É por este tipo de dinâmica que os sociais-democratas acreditam que, tal como em Braga, a maior vítima do Chega nas próximas eleições autárquicas será, ao contrário do que seria de esperar, o PS e não o PSD.

Tal como o Porto, também Aveiro escapa ao PS desde 2001. Os dois irmãos Souto — Luís (PSD) e Alberto (PS) — tentam suceder a Ribau Esteves, impedido de se recandidatar por limitação de mandatos, com duas nuances importantes: o socialista Alberto Souto já esteve à frente da Câmara de Aveiro; e Ribau Esteves, o principal ativo do PSD na cidade, não só preferia outro candidato (Rogério Carlos, seu ‘vice’), como tem estado particularmente discreto na campanha de Luís Souto — aliás, a máquina do PSD em Aveiro contestou aberta e ruidosamente a escolha do candidato.

Os sociais-democratas esperam, ainda assim, que Ribau Esteves — que mantém com Luís Montenegro uma relação de altos (foi um dos seus padrinhos políticos) e baixos (chegou a dizer que o atual primeiro-ministro “representa o pior do que o PSD tem”) — apareça agora na campanha ao lado de Luís Souto de forma a evitar uma derrota que se está a perspetivar no horizonte. O primeiro sinal foi dado: os dois estiveram juntos esta semana no encontro “Continuidade e Inovação”, realizado na sede de campanha de Souto.

A estas três autarquias há que juntar Espinho. Tratando-se de uma Câmara de menor dimensão, não deixa de ser a terra natal do primeiro-ministro. Mais a mais, a direção nacional recusou a candidatura de Ricardo Sousa, um velho rival interno de Montenegro, e impôs Jorge Ratola, ex-deputado, como candidato do partido. Ricardo Sousa tentou ainda impugnar as decisões tomadas pelo partido, recorrendo inclusive para o Tribunal Constitucional, mas sem sucesso.