Há autarquias onde o resultado de 12 de outubro terá peso nacional: são populosos, têm vários candidatos a presidente e há possibilidade de troca de protagonistas. Em Oeiras, a expectativa é que Isaltino ganhe pela terceira vez… seguida – e décima intercalada

Oeiras (CNN Autárquicas 2025) – O embate é sobretudo à direita e entre dois pesos-pesados. À partida, as perguntas nos partidos são não apenas se Isaltino ganha, mas se ganha por muitos – e se, portanto, é com o modelo de Isaltino que os moderados podem travar o Chega. E que modelo é este? Um modelo de proximidade com a população e experiência política, sim, mas também de propostas a rasgar inércias e comunicação informal e ativa nas redes sociais. Dois tipo de popularidade – ou, talvez de populismo. 

Boletim: quem é quem?

Se há presidente da câmara já antigo que, nos últimos tempos, ascendeu ao estatuto de celebridade, ele é Isaltino Morais. O autarca de Oeiras não só voltou  às televisões – depois de uma travessia no deserto em que não era convidado, provavelmente por causa do passado prisional – como se fez valer do Instagram e do TikTok para chegar a muita gente, recomendar restaurantes, mostrar trabalho feito – e mandar alfinetadas a quem o critica.

Para os partidos, a surpresa no dia 12 de outubro em Oeiras será se Isaltino Morais não ganhar. Ele é rei e senhor desta cidade que tem cerca de 175 mil habitantes – e onde a riqueza per capita está no cimo da lista.

Nem as polémicas acumuladas – como os almoços pagos pela câmara, a tentativa de censura a um cartaz sobre abusos sexuais na Igreja Católica ou a contratação da filha sem concurso – parecem beliscar a sua popularidade. Desta vez, aliás, tem o apoio do PSD, que desistiu de candidatos próprios depois do desaire das últimas autárquicas. O apoio, reagiu Isaltino Morais, é “bem-vindo”.

Quem quer ter impacto em Oeiras é o Chega, que leva à corrida o deputado Pedro Frazão. Anúncio feito num dia em que a câmara foi alvo de buscas, para “limpar a corrupção”. O slogan é “Libertar Oeiras”. Tudo referências aos cerca de dois anos de prisão por fraude fiscal e branqueamento de capitais cumpridos por Isaltino – que os cidadãos de Oeiras elegeram antes e depois disso. Isaltino venceu as autárquicas em Oeiras (pelo PSD ou como independente) em 1985, 1989, 1993, 1997, 2001, 2005, 2009, 2017 e 2021. 

PS e PAN juntaram-se e concorrem com Ana Sofia Antunes, ex-secretária de Estado da Inclusão de António Costa. Já Bloco de Esquerda, Livre e Volt apoiam a independente Carla Castelo, vereadora que dizem ser “a única oposição” no concelho. Há ainda candidaturas da CDU com Sandra Lemos e da Iniciativa Liberal com Bruno Mourão Martins.

Isaltino Morais acumula mais de 30 anos de governação em Oeiras (Lusa)

Arsenal de campanha

Embora o Chega procure centrar a campanha em Oeiras no passado de Isaltino Morais com a justiça, com direito a acusações de “ditador” a “Andrezinho” Ventura na reação, os temas de que os oeirenses querem ouvir falar são outros.

A começar pela habitação. Mesmo com Isaltino Morais a apresentar Oeiras como um bom exemplo de resposta às carências na habitação, com direito ao reconhecimento de outros colegas autarcas, continuam a existir muitas necessidades no concelho. Num território que figura sempre na lista dos que têm as casas mais caras em Portugal, Oeiras debate como garantir o acesso a este direito à classe média e o peso da habitação pública.

A vizinhança com Lisboa traz também o desafio dos transportes públicos. Um dos projetos em cima da mesa, que tem alimentado muita polémica, é o do SATU. É um elefante branco, parado, que a autarquia quer reativar até 2029, estendendo o projeto inicial, que chegaria a Sintra.

A isto juntam-se, em termos de mobilidade, os problemas de trânsito – como as constantes filas na A5 – e de estacionamento. Isaltino Morais tem procurado mostrar trabalho feito, por exemplo, no périplo pelas rotundas do concelho que fez nas suas redes sociais. A oposição acusa-o de desejar obras faraónicas, de não estar focado no essencial, antes naquilo que lhe traz visibilidade.

Num território com um rendimento acima da média, insiste-se também na necessidade de uma política social efetiva, com apoios às famílias, que permitam contrariar as desigualdades e, em última instância, a exclusão social.

Habitação e mobilidade entre as principais preocupações (Getty Images/Patrícia de Melo Moreira)

Currículo de guerra

O passado importa na hora de medir as probabilidades que cada força política tem. Veja como evoluíram as principais forças políticas neste concelho.

Nota: nesta comparação foram apenas tidos em conta os cinco partidos com maior peso eleitoral nas últimas eleições autárquicas, de 2021. O Chega, embora sem relevância em eleições autárquicas, é tido em conta na comparação legislativa devido ao seu crescimento.