O cometa interestelar foi observado em detalhes por diferentes telescópios, inclusive pelo telescópio Hubble que conseguiu obter um vislumbre da cauda. Crédito: Hubble/NASA
Roberta Duarte 29/09/2025 11:07 7 min
O cometa 3I/ATLAS foi descoberto no dia 1º de julho desse ano através de observações do observatório Asteroid Terrestrial-impact Last Alert System (ATLAS) localizado no Chile. Após alguns dias de observação, astrônomos já haviam estudado sua trajetória incomum e classificaram o objeto como um objeto interestelar, ou seja, que não tem origem no Sistema Solar. O objeto é o terceiro visitante interestelar registrado pela humanidade e, por isso, é uma oportunidade rara de estudar objetos distantes.
Por ser um evento raro, a visita de um objeto interestelar, o 3I/ATLAS rapidamente ganhou destaque na comunidade científica e na mídia. Dentro da comunidade científica, o ânimo vem principalmente por poder estudar pistas de um objeto formado em outra região da Galáxia. Isso quer dizer que estudar a composição do 3I/ATLAS nos diz muito sobre a formação e a distribuição química na Galáxia.
Como a descoberta do cometa é recente e as observações foram ficando mais detalhadas nos últimos meses, surgiram muitas dúvidas e informações desencontradas sobre o cometa 3I/ATLAS. Desde questões sobre sua composição, trajetória e possível atividade, até especulações, o tema tem gerado bastante discussão. Para esclarecer as informações, a astrofísica Dra. Roberta Duarte irá responder às perguntas mais comuns sobre o 3I/ATLAS.
O que é e como foi descoberto?
O objeto 3I/ATLAS foi observado pela primeira vez em 1º de julho de 2025 pelo observatório ATLAS que está localizado no Chile. Apesar da observação inicial ter sido feita pelo ATLAS, outros telescópios e observatórios, incluindo Hubble e James Webb, já observaram o cometa atrás de dados. Com a trajetória e velocidade incomuns, logo os astrônomos classificaram o objeto como interestelar, ou seja, que surgiu fora do Sistema Solar.
O nome 3I/ATLAS vem do fato que ele é o terceiro (3) objeto classificado como interestelar (I) e descoberto pelo observatório ATLAS.
Ele é o terceiro desse tipo já observado, depois de 1I/ʻOumuamua em 2017 e 2I/Borisov em 2019. As observações posteriores trouxeram alguns dados mais detalhados sobre o cometa. Segundo o site oficial da Agência Espacial Europeia (ESA), estima-se que o cometa tenha centenas de metros a alguns quilômetros de diâmetro. Sua velocidade chega a cerca de 210 mil km/h e se tornou a maior velocidade já registrada dentro do Sistema Solar.
Qual a origem dele?
A trajetória do 3I/ATLAS é extremamente hiperbólica, o que foi confirmado com dados do James Webb divulgados no final de agosto. Com a trajetória e a velocidade, o cometa foi rapidamente classificado como interestelar logo em julho e a classificação foi confirmada diversas vezes em outras observações. A velocidade dele é muito superior à de cometas ligados ao Sistema Solar e sua órbita mostra que ele não está preso gravitacionalmente ao Sol.
Para confirmar todas essas informações que foram obtidas inicialmente, grupos de astrônomos usaram o telescópio James Webb para observar o 3I/ATLAS no dia 6 de agosto de 2025. Além do Webb, o telescópio Hubble e a missão SPHEREx também observaram o cometa, fornecendo informações detalhadas sobre seu tamanho, composição física e química.
Como sabemos que é um cometa?
O 3I/ATLAS é classificado como cometa porque apresenta todas as características esperadas desse tipo de objeto. Ele tem uma composição rica em gelo e poeira, que ao se aproximar do Sol libera gases e forma uma coma ao redor do núcleo. Seu movimento e interação com a radiação solar também são típicos de cometas conhecidos. Sua trajetória determinada pela gravidade mostra que não há nenhuma característica artificial.
Simulações iniciais em julho mostraram a trajetória do cometa e, hoje, após diversas observações essa trajetória foi confirmada e o cometa passará atrás do Sol no momento de maior aproximação com a Terra. Crédito: NASA
Ele tem se comportado exatamente como um cometa e todas as observações confirmam que se trata desse objeto. Outro ponto importante é a idade estimada do 3I/ATLAS que indica que ele vem vagando pelo espaço há bilhões de anos. Esse longo percurso explica tanto sua velocidade quanto seu desgaste natural, reforçando a conclusão de que se trata de um objeto natural e não artificial. Não há qualquer evidência que sugira origem tecnológica.
Pode ser um perigo para a Terra?
É importante frisar que o cometa 3I/ATLAS não representa nenhum perigo para a Terra. Isso porque ele não chegará a menos de 240 milhões de quilômetros do nosso planeta e no momento da sua maior aproximação estará do outro lado do Sol. Isso garante que não existe qualquer risco de colisão. Ao final de outubro, ele entrará do outro lado do Sol e só voltaremos a observá-lo no final do ano.
Desde a sua descoberta, o 3I/ATLAS vem sendo monitorado por diferentes observatórios e telescópios. Todos os dados coletados confirmam que sua órbita permanece consistente com o previsto, reforçando o que foi encontrado em simulações iniciais em julho. Assim, o cometa permanece apenas como um objeto de interesse científico mas é completamente inofensivo para a Terra e para os demais planetas do Sistema Solar.