A evolução económica que atribui ao Estado Novo acontece em simultâneo com uma estagnação política?
Dizer que o Estado Novo foi uma ditadura, que censurava e oprimia, é o suficiente para condenarmos politicamente o regime. Não é preciso inventar que é um regime culpado pelo atraso do país, o que muitas vezes tem o óbvio intuito de desresponsabilizar as más escolhas que o país tem feito nas últimas décadas. Com o Estado Novo, deu-se o impulso inicial para a recuperação do atraso do país, que em termos do PIB se nota principalmente a partir dos anos 50, portanto ainda antes do impulso da EFTA [Associação Europeia do Comércio Livre] para a abertura da economia, tendo-se intensificado na década seguinte, com essa abertura. No livro mostro que algumas das raízes dessa recuperação têm de resto origem em políticas das décadas anteriores. O problema do analfabetismo infantil, um travão ao desenvolvimento do país desde há séculos, foi decisivamente resolvido durante o regime, permitindo assim uma base de capital humano para a evolução futura. A expansão da escolaridade para níveis superiores não poderia ter acontecido de forma sistemática sem esse problema ser antes resolvido, e começou a acontecer ainda durante o regime. A falta de democracia, sendo evidentemente criticável, não deve ser confundida com estagnação política, já que as instituições e possíveis reformas políticas têm múltiplas dimensões. No livro, explico como o Estado Novo foi um regime inovador e reformista em várias dimensões institucionais: a convergência económica e aumento de bem estar (por exemplo, queda da mortalidade infantil) não aconteceram por acaso; foram resultado de políticas públicas concretas, de natureza jurídica e política.