Um estudo recente do Banco Central Europeu (BCE) procurou quantificar o verdadeiro valor do teletrabalho, questionando os trabalhadores sobre que percentagem do seu ordenado estariam dispostos a sacrificar para manter esta flexibilidade.

Trabalho remoto

O teletrabalho é inegociável para a esmagadora maioria

A resposta dos trabalhadores europeus foi clara e inequívoca. De acordo com os dados da Sondagem sobre as Expectativas do Consumidor (CES) do BCE, uma maioria esmagadora de 70% dos inquiridos não está disposta a abdicar de qualquer parte do seu salário para poder trabalhar a partir de casa.

No entanto, uma minoria considera a troca. Cerca de 13% dos trabalhadores aceitariam uma redução salarial entre 1% e 5%, enquanto apenas 8% consentiriam um corte mais substancial, na ordem dos 6% a 10%.

Estes números são de extrema importância para as empresas, pois ajudam a medir o valor que os colaboradores atribuem ao teletrabalho, muitas vezes enquadrado no conceito de “salário emocional”.

Tanto os dados do Eurostat como os de outros inquéritos recentes ao mercado de trabalho indicam que o número de pessoas a trabalhar remotamente, tanto a nível europeu como nacional, se mantém significativamente acima dos níveis pré-pandémicos de 2019.

A principal alteração reside na modalidade: se antes de 2020 o trabalho 100% remoto era a opção mais discutida, hoje o modelo híbrido, que combina dias no escritório com dias em casa, é o que prevalece. Esta natureza mista influencia diretamente a percentagem do salário que os trabalhadores estão dispostos a sacrificar.

A flexibilidade tem um preço (para alguns)

O estudo do BCE revela que a fórmula mais comum atualmente consiste em trabalhar dois a três dias por semana a partir de casa. Para manter este regime, os trabalhadores europeus estariam, em média, dispostos a aceitar uma redução salarial de 2,6%.

A disposição para o sacrifício financeiro aumenta proporcionalmente com o número de dias de teletrabalho. Por exemplo, um colaborador em regime totalmente remoto aceitaria, em média, um corte de 4,6% no seu vencimento, ao passo que quem trabalha remotamente apenas um dia por semana mal consideraria uma redução superior a 1,6%.

Europa vs. EUA: uma diferença de mentalidades

Na Europa, a pressão das empresas para o regresso total ao escritório tem sido menos intensa do que nos Estados Unidos, e essa diferença reflete-se na atitude dos trabalhadores. Um estudo contínuo de investigadores das Universidades de Stanford e de Chicago aponta que, nos EUA, a redução salarial média aceite para manter o teletrabalho ronda os 7%.

Este contraste sugere que, no continente europeu, o trabalho remoto está a deixar de ser visto como um privilégio para se tornar uma condição laboral standard em muitos setores.

Perante estes dados, algumas empresas podem ser tentadas a eliminar o teletrabalho ou a usá-lo como moeda de troca para negociar salários mais baixos. Contudo, o que parece uma estratégia vantajosa a curto prazo pode revelar-se um erro a médio e longo prazo.

O teletrabalho consolidou-se como uma ferramenta fundamental dos departamentos de Recursos Humanos para atrair e reter profissionais qualificados, um recurso cada vez mais escasso.

 

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