O plano prevê que Donald Trump presida a um comité que supervisiona a transição em Gaza. E, caso venha a ser adotado, “ninguém será forçado a sair de Gaza”, garantiu a Casa Branca


O “Plano Abrangente para Acabar com o Conflito de Gaza” descreve 21 pontos principais e começa com Gaza a tornar-se uma “zona desradicalizada e livre de terrorismo”, que não representa uma ameaça para os seus vizinhos.


As forças israelitas retirarão para as linhas acordadas, a fim de se prepararem para a libertação dos reféns. Assim que todos os reféns forem libertados, Israel libertará 250 palestinianos que cumprem penas de prisão perpétua e 1.700 residentes de Gaza que foram detidos após o início da guerra, a 7 de outubro de 2023, segundo o plano.


O documento foi apresentado antes da conferência de imprensa com Netanyahu. Estava marcada para as 18h30 em Portugal, mas atrasou-se sem que fossem apresentadas quaisquer explicações aos jornalistas.


Pelas 19h30, os dois líderes subiram às respetivas tribunas.



Uma hora e meia depois,o Hamas referia que ainda não tinha recebido o plano.

À BBC, um alto funcionário do Hamas garantiu que o grupo não tinha recebido qualquer iniciativa de cessar-fogo do presidente norte-americano, Donald Trump, através de mediadores.

O responsável acrescentou que o Hamas continuava aberto a estudar qualquer proposta que possa pôr fim à guerra em Gaza, mas sublinhou que qualquer acordo deveria salvaguardar os interesses palestinianos, garantir a retirada total de Israel de Gaza e pôr fim à guerra. 


A entrega do documento acabou por ser confirmada meia-hora depois. “As autoridades catari e egípcias entregaram o plano da Casa Branca para pôr fim à guerra em Gaza às autoridades do Hamas em Doha”, disse a fonte palestiniana.


“Um dia histórico para a paz”


Trump começou por afirmar que o acordo de paz está “muito próximo” e que está a trabalhar em estreita colaboração com Benjamin Netanyahu para alcançar a “paz no Médio Oriente”.



“Este é potencialmente um dos melhores dias da civilização”, acrescentou. “Hoje é um dia histórico para a paz”.


O presidente dos EUA agradeceu ainda a Netanyahu “por ter aceite” o seu o seu plano para Gaza, acrescentando que este envolveu líderes de vários países da região, incluindo a Arábia Saudita, o Catar, os Emirados Árabes Unidos, o Egito, o Paquistão e a Jordânia.

De acordo com Trump, os corpos dos reféns mortos serão devolvidos de imediato, caso o plano de paz seja aprovado. O presidente dos EUA afirmou também que isso irá significar “o fim imediato da guerra em si”.

Os países árabes e muçulmanos comprometeram-se a “desmilitarizar Gaza” rapidamente, como parte do plano e os túneis e as instalações de produção do Hamas serão destruídos, referiu.

O plano envolveria também o treino das forças policiais locais, e as Forças de Defesa de Israel (IDF) retirariam de Gaza por fases.

A ameaça do Hamas seria “destruída”, disse, e Netanyahu teria o total apoio norte-americano para “fazer o que for preciso”.

Trump mostrou-se otimista de que o fim da guerra está “já aí”, embora tenha reconhecido que o Hamas ainda não respondeu.

Parte do plano da Casa Branca parece ser o de deixar bem claro ao Hamas que os EUA se isentarão da escalada militar israelita em caso de recusa do grupo palestiniano.

Muitos palestinianos querem viver em paz, mas precisam de “assumir a responsabilidade” pelo seu destino, afirmou Trump, considerando que tiveram uma “vida difícil” sob o Hamas.

Mas, se não concordarem com o seu plano, acrescentou, a culpa será deles próprios.


“Um novo começo para Gaza”


“Apoio o plano para pôr fim à guerra em Gaza, o que atinge os nossos objetivos de guerra”, afirmou Benjamin Netanyahu. 


O plano “trará de volta a Israel todos os nossos reféns, desmantelará as capacidades militares do Hamas, acabará com o seu domínio político e garantirá que Gaza nunca mais represente uma ameaça para Israel”, acrescentou.

“Todos os reféns – vivos e mortos – devem ser devolvidos no prazo de 72 horas”, referiu.

Netanyahu referiu que todas as partes estão a ter a oportunidade de acabar com a guerra pacificamente, mas se o Hamas rejeitar o plano, ou se supostamente o aceitarem e não o levarem avante, “terminaremos o trabalho”, afirma.

“Isto pode ser feito da maneira mais fácil ou da maneira mais difícil, mas será feito”, afirmou. Israel não travou esta luta “horrível” para que o Hamas permanecesse em Gaza, avisou ainda.

O primeiro-ministro israelita afirmou também que a Autoridade Palestiniana [que governa a Cisjordânia] não pode ter qualquer papel em Gaza sem passar por uma “reforma radical e genuína”.

Para Netanyahu, este plano de paz pode ser “um novo começo” para Gaza e para toda a região do Médio Oriente. Os Acordos de Abraão poderiam ser “revitalizados” e expandidos a outras nações árabes e muçulmanas, considerou também.


Na conferência de imprensa, Donald Trump manteve o tom otimista, incluindo sobre as relações entre os Estados Unidos e o Irão. Expressou o desejo de que Teerão possa via a aderir aos Acordos de Abrão, adotados na sua primeira presidência, que permitiram a normalização das relações entre Israel e os Emirados Árabes, além do Bahrein.


“Numa dada altura, o Irão será membro dos acordos”, disse Trump, acrescentando que seria “uma grande coisa para eles economicamente”.

Num outro sinal de apaziguamento, num telefonema tripartido durante a reunião com Donald Trump, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, pediu desculpa ao seu homólogo catari, o xeque Mohammed bin Abdulrahman al-Thani, pela violação da soberania do Catar, com o ataque israelita em Doha, a 10 de setembro, que teve por alvo membros do Hamas.


Falta atualmente pouco mais de uma semana para serem assinalados dois anos de guerra, lançada após o ataque do Hamas e de outras forças palestinianas, durante o qual Israel foi invadido a 7 de outubro. 


O presidente norte-americano mostrou-se esta manhã “confiante” de que seria possível um acordo de paz entre Israel e o Hamas.


Domingo, Donald Trump anunciou na sua rede social Truth Social, que estava em preparação algo “inédito” e que havia a possibilidade de uma “hipótese real de grandeza” no Médio Oriente.