A professora e pesquisadora Roberta Hernandes Alves fala sobre a obra mais engajada de Rachel de Queiroz, que se passa durante a era Vargas e é carregada de dilemas do período, especialmente em relação à atuação das mulheres
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Considerada uma das maiores escritoras do século 20, Rachel de Queiroz foi uma pioneira no cenário literário nacional. Em 1935, em meio à repressão do governo de Getúlio Vargas, ficou detida por três meses, e foi quando escreveu Caminho de Pedras, sua obra mais engajada e expressão de um socialismo libertário que poucas vezes voltaria a aparecer em suas obras. O livro é carregado de dilemas do período: a perseguição da era Vargas a organizações trabalhistas, a violência estatal e o moralismo, especialmente em relação à expectativa da atuação de mulheres, dentro e fora do lar.
“Caminho de Pedras marca a emancipação de Rachel, na medida em que ousa criticar certos procedimentos do Partido Comunista, ao mesmo tempo em que retrata de modo sensível as lutas de Noemi (personagem principal) que, apesar de todas as dificuldades e obstáculos, segue acreditando em transformações sociais”, destaca a pesquisadora. Segundo ela, há na obra uma presença nordestina no cenário, na linguagem, no viés narrativo, somada a uma perspectiva sobre as mulheres e seus dramas: a atuação social, a maternidade, o amor, a quebra de barreiras.
Escrito em 1937, Caminho de Pedras é o terceiro romance da autora. “Os romances de Rachel sempre terminam em trânsito, como aponta a própria autora. Há sempre um percurso a ser trilhado, um desafio a ser vencido, um espaço a ser conquistado pelas mulheres”, afirma Roberta. E continua: “Embora haja muita desilusão no universo literário de Rachel, é possível vislumbrar também resistência e uma perspectiva inovadora da atuação feminina”, completa.
Clique no player abaixo para conferir a análise da pesquisadora Roberta Hernandes Alves, doutora em Literatura Brasileira pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP:
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Leia também a matéria Caminho de Pedras, que retrata a resistência das mulheres na política e no amor, publicada no Jornal da USP neste link