João Ferreira, ao volante do Toyota Hilux T1+ Evo, demonstrou no último dia de prova que possui o andamento e o carro necessários para competir ao mais alto nível. Apesar de uma frustração inicial, o piloto português não só cumpriu o objetivo de dar espetáculo, como venceu o derradeiro setor seletivo, superando nomes como Nasser Al Attiyah e Carlos Sainz. Este feito, a sua segunda vitória em etapas na categoria Ultimate do W2RC, em Portugal, solidifica a sua posição entre a elite do rali-raid mundial, mas também acende a ambição de ir além das vitórias parciais, com o Dakar como objetivo primordial.

O brilho na última etapa e a ambição crescente

A derradeira secção cronometrada, com 103 quilómetros, viu João Ferreira impor-se de forma categórica, demonstrando um ritmo avassalador que lhe permitiu ganhar 1m13s a Nasser Al Attiyah (Dacia Sandrider) e 1m16s a Carlos Sainz (Ford Raptor T1+). Uma exibição que, embora não tenha alterado o desfecho global da prova como desejava, sublinhou o seu potencial inegável.

“Senti-me muito bem com o carro. É sempre bom vencer um setor seletivo e mostrar o nosso ritmo perante os melhores pilotos do mundo. Não era o que esperava, mas estou contente com o resultado da etapa. Agora é pensar em Marrocos”, declarou João Ferreira, refletindo sobre a sua segunda vitória em etapas no W2RC.

Apesar da satisfação pela vitória na etapa, a frustração de não ter concretizado um resultado mais expressivo na geral é palpável, um sentimento que, no entanto, é rapidamente transformado em motivação.

“Sim, de facto, é como disse ontem, é uma pena para mim, para a equipa, mas só posso culpar a mim mesmo e, portanto, foi bom, temos vencido duas etapas, as minhas primeiras duas vitórias à geral na categoria Ultimate do W2RC, foram em Portugal, portanto, não sei se é um sabor especial, mas sim, de facto, depois de termos terminado uns dias em terceiro, e os outros dois em primeiro, e os outros dois, pronto, foi o que foi. É pena”, admitiu o piloto.

No ‘Mix’ dos pilotos de topo: o desafio de vencer corridas

O reconhecimento de que está entre os melhores do mundo é uma fonte de satisfação, mas Ferreira é claro quanto aos próximos passos: é preciso converter a velocidade em vitórias finais.

“Sim, são boas notícias, é verdade, mas temos que começar, como eu já disse, temos que começar a ganhar corridas e não somente a ganhar etapas, nem parciais e, portanto, isso temos que reajustar aqui uma coisa ou duas, mas não tenho dúvida nenhuma que em Marrocos vamos ter um rali melhor e vamos estar na luta pela vitória ou pelo pódio”, projetou o piloto.

A experiência e a adaptação: o fim das justificações

Com a acumulação de quilómetros e a evolução constante, João Ferreira sente que o tempo das desculpas relacionadas com a inexperiência ou adaptação ao carro chegou ao fim.

“Sim, muitos têm quilómetros de vantagem em relação a mim, mas também eu já começo a ter muitos quilómetros, a altura de dizer que os outros têm mais experiência do que eu já passou, o tempo para dizer que me estou a adaptar ao carro também está a passar, ou já passou, portanto, agora é a altura de meter as cartas em cima da mesa e foi o que tentámos fazer nesta corrida. Talvez tenha sido esse o problema, tentar querer andar sempre muito depressa todos os dias. É algo que eu preciso ajustar, mas temos uma semana agora aqui para repensar muita coisa, para preparar Marrocos”, confessou Ferreira, com uma honestidade reveladora.

O sonho do Dakar: um objetivo cada vez mais próximo

O Dakar, a prova rainha do rali-raid, é o grande objetivo de João Ferreira, um sonho que se transforma em meta com cada progresso alcançado.

“Dakar, sim, é um sonho, é um objetivo. Os sonhos parecem uma coisa quase inalcançável e tenho esse objetivo. Já estive muito longe disso e cada vez cada dia que passa eu estou mais perto”, afirmou. Recordando o seu percurso, o piloto revela a rapidez da sua ascensão: “Só há 1 ano atrás estive aqui a lutar pelo pódio da corrida e antes da corrida começar a pensar que ia lutar pelo top 10, cheguei aqui a pensar que ia estar constantemente no top 3 e venci duas etapas, portanto, acho que isto é tudo um caminho que tem que se fazer e não tenho dúvida nenhuma com o trabalho que temos continuado a fazer e com o conjunto que a equipa esse dia um dia irá chegar.”

A sua trajetória, que começou com vitórias em categorias de formação e culminou em títulos europeus e Taças do Mundo, é uma “bola de neve” de sucesso. A ambição não conhece limites, e a satisfação é sempre um ponto de partida para novos desafios.

“Nem sonhava na altura, foi uma coisa um pouco inexplicável como tudo aconteceu, depressa e começamos a ver os resultados a surgir. Comecei por vencer uma corrida no T2, depois vencer um campeonato T2, depois vencer uma corrida no T1, vencer um campeonato T1+s, o campeonato da Europa, Taça do Mundo, portanto, isto depois foi uma bola de neve e acho que por vezes o ser humano parece que nunca está contente com o que tem. Se me dissessem que ia ganhar uma etapa aqui no Rali Raid, eu dizia: ótimo, boa. Hoje já queria ganhar a segunda, e mesmo assim já queria ter ganho o rali, para a semana quero ganhar Marrocos e vai chegar o dia, Deus queira que sim, pelo menos é esse o meu objetivo, ganhar o Dakar e depois ganhar de ganhar o primeiro, vou querer ganhar o segundo, é sempre assim…”, partilhou, com um sorriso.

Em apenas cinco anos, João Ferreira passou de uma luta renhida no T2 para ser um dos nomes mais promissores do rali-raid mundial.

“É verdade, as coisas mudaram um bocadinho… Quem sabe, certo é que vamos trabalhar para isso! É esse o nosso objetivo…”, concluiu, com os olhos postos no futuro e na concretização dos seus ambiciosos sonhos. A sua história é um testemunho da capacidade de superação e da busca incessante pela excelência no desporto motorizado.