Não sei te dizer se “O Grande Circo”, novo livro de Guilherme Fiuza, é bom. Afinal, por causa do Diogo Mainardi passei a semana em torno da pergunta “o que é um livro bom?” Mas sei dizer que é bem escrito e divertido. Necessário? Também, principalmente num tempo em que parece que apenas uma patota tem direito ao registro literário da história. Como venho lamentando neste espaço, porém, é uma pena que o livro vá ser lido apenas por uma patota. No caso, a outra.
Mas isso é bom porque me dá a oportunidade de perguntar a você, leitor: qual foi a última vez que você consumiu um texto de não-ficção (ou um documentário) disposto a ser convencido? Aliás, convém ampliar o escopo da pergunta: quando é que você entrou em contato com fatos e argumentos com a generosidade de se deixar convencer por eles? E vou aproveitar o ensejo para emendar uma pergunta que me ocorreu agora, mas não vai dar tempo de explorar (e que já explorei em outra ocasião): quando você mudou de ideia pela última vez?
Será que eu estou?
Enquanto você reflete aí (sou um otimista), aproveito para dizer que fiquei espantado com a disposição do Fiuza para encadear fatos e argumentos a fim de mostrar que o jornalismo se transformou numa poderosa, mas também ridícula, máquina de propaganda a serviço de uma visão de mundo específica. E o melhor: com uma ironia cortante (argh, o clichê!) como eu há muito não lia. Fiuza escreve como quem faz questão de deixar claro: apesar do analfabetismo funcional que nos rodeia, a qualidade do texto ainda importa.
Mas isso é papo de escritor e não sei se interessa a você, por isso volto à questão central destas mal traçadas: quem ainda está disposto a ser convencido? De qualquer coisa. E será que eu estou? Não, não estou e chegar a essa conclusão me incomodou. Porque me vejo como alguém de mente aberta, receptivo a novas ideias. Pelo menos é como eu gosto de me ver. Ou, por outra, de me enganar. Porque a imagem idealizada de alguém completamente aberto à argumentação contrária é também a imagem deprimente e repugnante de um homem vazio de convicções.
Ah, a Realidade…!
Afinal, convicções existem por um motivo: para que o homem não fique indo para lá e para cá, ao sabor do vento que o espírito do tempo sopra em nossos ouvidos. O problema é a qualidade das nossas convicções, muitas delas assentadas na areia das circunstâncias e dos interesses imediatos. Daí porque me parece que as convicções de cunho meramente ideológico, tanto à direita quanto à esquerda (para usar um reducionismo que o Fiuza sabiamente odeia e combate), são as mais nocivas. São as que mais nos brutalizam.
Dito isso, neste texto em ziguezague volto ao “O Grande Circo” para dizer que o que mais me impressiona no jornalismo retratado pelo Fiuza é a indisponibilidade de nós, jornalistas, nos deixarmos convencer não pelas narrativas criadas pela máquina de propaganda da ideologia da vez, e sim por aquilo que a Realidade insiste em esfregar na nossa cara. Só porque a Realidade nos contraria e expõe nossa ignorância. Ou porque a Realidade destoa dos nossos interesses mais mesquinhos, como a vitória do “nosso lado” e, mais grave, põe em risco o nosso quinhão no PPLR (Participação nos Lucros ou Resultados). Aí complica.