O Presidente norte-americano, Donald Trump, quer reorientar as Forças Armadas para o combate a alegadas ondas de criminalidade em cidades geridas pelo Partido Democrata como Nova Iorque, Los Angeles, Chicago ou São Francisco. “São sítios muito inseguros e vamos endireitá-los um a um”, afirmou esta terça-feira, na base de Quantico, na Virgínia, perante cerca de 800 generais, almirantes e outros altos oficiais militares convocados para um encontro extraordinário onde ouviram o chefe de Estado e o secretário da Defesa, Pete Hegseth, a investir contra o “politicamente correcto” e a anunciar novos requisitos de admissão e de desempenho de funções de combate.
“Disse ao Pete que devemos utilizar algumas destas cidades perigosas como campos de treino para os nossos militares e para a Guarda Nacional”, afirmou Trump. “Vamos para Chicago muito em breve, que é uma cidade grande com um governador incompetente”, declarou o Presidente, referindo-se ao democrata J.B. Pritzker.
“Isto vai ser um grande papel para algumas das pessoas nesta sala. Isto também é guerra, é uma guerra interna”, afirmou, defendendo uma reorientação estratégica das Forças Armadas norte-americanas ao dizer que o seu lugar não era em “terras recônditas do Quénia e da Somália”, mas sim na protecção das fronteiras e território nacional.
“Estamos a ser invadidos por dentro, por algo semelhante a um exército inimigo, mas mais difícil de diversas formas, porque não usam uniformes”, alegou, referindo-se a grupos criminosos internacionais, nomeadamente da Venezuela, e aos imigrantes ilegais. E voltou a acusar a esquerda norte-americana de passividade ou mesmo conluio com os ditos “invasores”.
Trump voltou também a referir-se à mobilização, decretada no fim-de-semana, de 200 militares da Guarda Nacional para Portland, no estado do Oregon, que descreveu novamente, e incorrectamente, como uma “zona de guerra”.
“A menos que estejam a transmitir imagens falsas, aquilo parece a II Guerra Mundial”, alegou. O estado do Oregon e a cidade de Portland, ambos sob governo democrata, negam com veemência a necessidade de uma intervenção militar federal, apontando para a queda da criminalidade e para a inexistência dos distúrbios insistentemente aludidos por Trump, que se tem referido a imagens televisivas que datam de 2020, anos dos protestos pela morte de George Floyd, e que não têm correspondência com a situação actual.
Mulheres, “gordos” e “barbudos” fora
“Acabou-se essa merda.” Num encontro sem precedentes, foi com linguagem igualmente invulgar que o secretário da Defesa disse, antes de Trump tomar a palavra em Quantico, que terminou o que Hegseth designou como “a guerra contra os guerreiros”.
“A era da liderança politicamente correcta, demasiado sensível, que não magoa os sentimentos de ninguém, termina agora mesmo”, declarou, decretando que todos os militares em funções de combate terão de corresponder aos “mais elevados padrões masculinos”. A declaração, e o anúncio de que serão impostos novos requisitos gerais de peso, altura e aptidão física nas Forças Armadas, com os militares a serem sujeitos a exames duas vezes por ano, abre a porta à saída das mulheres de funções de combate.
“Não quero que o meu filho sirva ao lado de tropas que estão fora de forma, ou em unidades de combate com fêmeas que não cumprem os mesmos requisitos físicos de combate armado que os homens”, afirmou Hegseth. “Os requisitos têm de ser uniformes, neutros quanto ao género, e elevados”, acrescentou.
“Se as mulheres conseguem cumpri-los, excelente. Se não, é o que é. Se isso significar que nenhuma mulher se qualifica para algumas funções de combate, assim será. Essa não é a intenção, mas pode ser o resultado”, admitiu.
“Durante demasiado tempo, promovemos demasiados líderes fardados pelas razões erradas, baseando-nos na sua raça, baseando-nos em quotas de género, baseando-nos em chamadas ‘primeiras vezes’ históricas”, criticou.
Os novos requisitos físicos não foram revelados esta terça-feira em Quantico. Hegseth admite que vários ramos e unidades das Forças Armadas já aplicam um conjunto de exigências, mas que serão agora uniformizadas.
“É um desalento olhar para tropas gordas”, disse, considerando ser igualmente inaceitável haver “generais e almirantes gordos nos corredores do Pentágono e a liderar comandos pelo país e pelo mundo fora”.
O secretário da Defesa também afirmou que não serão permitidas “barbas, cabelos compridos e expressões superficiais de individualidade”. A única excepção, quanto à barba, está reservada aos elementos das forças especiais. De outro modo, “acabaram-se os barbudos”.
Hegseth anunciou ainda a abolição de canais internos de denúncias sobre “lideranças tóxicas”, um conceito que será sujeito a uma redefinição nas Forças Armadas, tal como os termos “bullying” ou “praxe”. O responsável justifica que as acusações e as queixas têm sido instrumentalizadas para contestar e minar os princípios de hierarquia militar.
Novas demissões à vista
O secretário da Defesa desafiou depois os eventuais críticos a abandonarem as Forças Armadas. “Se as palavras que estou aqui a dizer hoje pesam no vosso coração, então façam o que é honrado e demitam-se”, afirmou, recordando os recentes afastamentos de lideranças militares e atacando oficiais críticos do Presidente Donald Trump.
“Haverá mais mudanças nas lideranças, tenho a certeza. Não porque queremos, mas porque temos de fazê-lo”, anunciou. “O meu trabalho tem sido o de determinar que líderes simplesmente fizeram o que tinha de ser feito para responder às prerrogativas das lideranças civis, e que líderes estavam realmente apostados no departamento woke e que são por isso incapazes de adoptar o Departamento de Guerra e as novas ordens executivas legítimas”, acrescentou.
“O novo compasso é claro: fora com os Chiarellis, os McKenzies e os Milleys, entrem os Stockdales, os Schwarzkopfs e os Pattons”, disse.
O receio de demissões e despedimentos vinha sendo aludindo ao longo dos últimos dias por fontes militares em declarações à imprensa norte-americana.