Com 572 páginas e 22 artigos de especialistas do Brasil e do exterior, obra está disponível gratuitamente no Portal de Livros Abertos da USP

Foto: Divulgação/Livros Abertos da USP

 

Em pleno século 21, as narrativas míticas continuam presentes no imaginário das sociedades. É o que mostra o livro A Presença do Mito na Atualidade: Contribuições Contemporâneas, organizado pelos professores Rogério de Almeida, da Faculdade de Educação da USP, e Alberto Filipe Araújo, da Universidade do Minho, em Portugal. Disponível gratuitamente no Portal de Livros Abertos da USP, a obra, que tem 572 páginas, traz 22 artigos escritos por especialistas do Brasil e do exterior. “Os mitos e sua potência simbólica se espraiam pelas mais distintas culturas, irrigando a busca de sentido e compreensão do que é vivido, em todos os âmbitos da vida, seja social, cultural ou religiosa”, justificam Almeida e Araújo na introdução.

O professor da Faculdade de Educação da USP e músico, Rogério de Almeida – Foto: Victória Tambara/FE-USP

Entre os 22 artigos publicados no livro está Mito y Símbolo, do professor José Manuel Losada, da Universidade Complutense de Madri, na Espanha. Nele, Losada define símbolo como um tipo particular de imagem que adquire significados determinados em função de circunstâncias também singulares. “Devido a seu caráter polissêmico, estamos diante de um conceito moldável e moldado. Pode-se estudá-lo de muitas diversas maneiras: resultado de um processo pré-consciente, procedimento técnico da expressão poética, signo motivado ou, pelo contrário, convencional, fonte de referências esotéricas, alquímicas, psicoanalíticas, sociais e existenciais do imaginário”, escreve o professor. “Além disso, umas e outras referências contêm uma multiplicidade de funções: didática, persuasiva, parenética etc., segundo as interpretações.”

Também presente no livro, o artigo As Mitologias da Psicologia Complexa de Jung é assinado pelo professor Walter Boechat, membro fundador e ex-presidente da Associação Junguiana do Brasil. “Pode-

Alberto Filipe Araújo – Foto: Reprodução/UFMG

se perceber a presença do mito no desenvolvimento das ideias de Jung desde suas origens. Os deuses e deusas os acompanharam em todo o seu percurso teórico, mesmo em sua fase tardia, nos estudos de alquimia”, escreve Boechat. “O homem arcaico vivia em comunhão com o mundo natural circundante, sua alma em íntima comunhão com as árvores, as montanhas, os metais e as estrelas. Para imaginarmos esse mundo sem divisões, teríamos que nos despir de nossa cosmovisão moderna permeada de dicotomias, a primeira delas da separação homem-natureza, e da qual derivam todas as outras, mente-corpo, espírito-matéria, mundo interno-mundo objetivo. Mas o inconsciente do homem contemporâneo está mergulhado nesse oceano único indiviso, que os alquimistas medievais denominaram o Unus Mundus, onde os dominantes do inconsciente coletivo se manifestam na natureza.”

Já o professor Jean-Jacques Wunenburger, da Universidade Jean Moulin, em Nice, na França, assina o artigo Création Artistique et Mythique. Nele, Wunenburger escreve: “O mito se revela ser uma forma imaginativa profundamente autoplástica e criativa. E essa criatividade repousa, paradoxalmente, sobre uma certa desmitologização, ou seja, sobre uma alteração de sua transmissão literal, sobre um enfraquecimento das atitudes de adesão, que deixam lugar, na instabilidade labiríntica do relato, para uma subjetividade que se reapropria da forma e do sentido, a sintaxe e a semântica”.

O livro A Presença do Mito na Atualidade: Contribuições Contemporâneas, de Rogério de Almeida e Alberto Filipe Araújo, está disponível gratuitamente no Portal de Livros Abertos da USP